Você não quer um avivamento verdadeiro e eu posso provar isso

 
Recentemente, uma faculdade americana ganhou notoriedade por experimentar um movimento de avivamento. Entre os dias 8 e 24 de fevereiro, a instituição realizou cultos públicos com pregações e louvores, e relatos afirmam que houve um verdadeiro despertar espiritual, com testemunhos de conversão e arrependimento.

Muito tem sido dito, escrito e gravado sobre o assunto, portanto, não pretendo me aprofundar aqui. É inegável que Asbury é um exemplo e uma inspiração para muitos pastores e líderes no Brasil. Afinal, um evento como esse atrai uma grande multidão de olhares, e, no final das contas, a maioria dos líderes almeja algo semelhante.
Contudo, o objetivo deste texto não é discutir o evento em Asbury, pois já há um texto específico sobre ele. A ideia aqui é refletir sobre se, de fato, desejamos um avivamento genuinamente bíblico.

No texto anteriormente publicado sobre Asbury, optei por deixar o assunto em aberto para que pudéssemos acompanhar os resultados do avivamento. Através desses resultados, poderíamos identificar se era verdadeiro ou não, visto que somente o Espírito Santo é capaz de operar tais transformações na Igreja.

Percebo que muitas pessoas desejam um avivamento autêntico no Brasil, o que me leva a questionar se o que temos atualmente é real. Em 2007, o país contava com cerca de 24 milhões de pentecostais, de acordo com o site Ultimato. No entanto, o site thetricontinental.org apresenta números diferentes. Segundo ele, em 2010 havia 25 milhões de pentecostais no Brasil, enquanto em 2016 esse número saltou para aproximadamente 45 milhões. É um aumento significativo em relação ao número de pessoas dentro do movimento que, em teoria, mais experimenta o que poderia ser chamado de "avivamento".

Em média, teríamos 1,7 milhão de pentecostais em cada estado brasileiro. Isso é surpreendente, se considerarmos que se multiplicarmos a quantidade de pessoas influenciadas pelo avivamento de Atos 2 pela nossa realidade, basicamente poderíamos converter o mundo inteiro. Entretanto, o problema está em que não estamos buscando o avivamento que a Bíblia ensina, e isso pode ser provado.
Embora algumas pessoas realmente desejem um avivamento, a maioria não experimentou e não deseja tal coisa em 2023. Creio que precisamos valorizar os verdadeiros e fiéis crentes que oram fervorosamente por um avivamento, mas também precisamos compreender o que um avivamento verdadeiro poderia fazer com a Igreja, para assim abordarmos melhor esse tema tão importante.

Se visitarmos uma igreja padrão do movimento pentecostal, podemos notar que para o movimento, o agir do Espírito Santo pode ser resumido em falar em línguas, girar no manto e receber revelações e visões. Porém, é importante destacar que ser avivado não se resume a essas práticas. Ser avivado é sentir um desejo incontrolável de colaborar com o Reino de Deus, seja dentro ou fora da igreja, e viver em comunidade trabalhando para a edificação do próximo.

É fundamental que os cristãos busquem entender o verdadeiro significado do avivamento e não se limitem apenas a práticas externas que podem ser facilmente imitadas. Na Igreja em Atos 2 e em outros momentos da história cristã, o avivamento foi marcado pela ação poderosa do Espírito Santo na vida das pessoas, transformando corações e despertando um desejo genuíno de servir a Deus e ao próximo.
Por isso, é necessário que os cristãos busquem os sinais verdadeiros de um avivamento, que vão muito além de práticas externas. É preciso buscar a verdadeira transformação de coração e uma vida que reflita o amor de Deus em todas as áreas. Afinal, ser avivado é mais do que ver sinais e prodígios, é viver em amor e serviço ao próximo, seguindo o exemplo de Jesus.

O avivamento bíblico, em poucas palavras, tem a ver com a verdadeira entrega do ser humano a Deus. É aquele momento em que passamos a enxergar e perceber em nosso coração que algo não está correto, nos desagrada tanto que caímos aos pés do Salvador.

O avivamento que não começa com uma profunda percepção da nossa triste realidade não vai gerar os frutos necessários para ser considerado um avivamento genuíno. O maior problema é que os ímpios constantemente sentem o mesmo sentimento de culpa e arrependimento, mas se levantam, se limpam e voltam a pecar. O sentimento de culpa e arrependimento está intrínseco no coração do homem, mas a mudança genuína só pode ser operada pelo Espírito Santo, e isso nos leva ao segundo passo de um verdadeiro avivamento: a mudança de cosmovisão. Passamos a deixar os desejos pecaminosos de lado e buscamos progressivamente a vontade de Deus.

Em Atos 2, pela pregação de Pedro, isso foi o que aconteceu e eles seguiram corretamente o próximo passo. Aquela igreja cresceu para mais de 3 mil pessoas devido à ação sobrenatural de Deus. Pessoas abandonaram tudo para viver entre eles, deixando sonhos, empregos e costumes, para seguir aquilo que Lucas chama de "doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações" (At 2:42).

Hoje em dia, precisamos convencer os "crentes" a comparecerem aos cultos. E, quando o culto trata de doutrina, geralmente desaparecem. Serão mesmo crentes?

As lições de Atos 2 sobre um verdadeiro avivamento seguem a seguinte ordem:
A - Ouviram a pregação do evangelho;
B - Arrependeram-se de seus pecados e foram convertidos;
C - Foram batizados;
D - Passaram a viver a doutrina ensinada pelos apóstolos;
E - Levaram sua fé para onde foram enviados. A igreja se multiplicou por isso;
F - Viveram em comunidade, sem considerar para si mesmos coisa alguma.

Veja, tudo isso é muito difícil em 2023. Precisamos quase implorar para que alguém vá à igreja. Evangelizar? É algo que parece impensável! E viver em unidade e união? Nem precisa dizer o quão difícil isso é. Tudo isso mostra que, se alguém nesse país foi avivado, como aconteceu em Atos 2, essas pessoas estão tão distantes entre si que, possivelmente, nem se conhecem.

Claro, eu acredito que existam pessoas assim. São aquelas que estão lutando pela verdade, tentando convencer as pessoas de que precisam mais da Palavra de Deus do que de seus sonhos e desejos por bênçãos. Eu me coloco nessa posição, mas não creio que seja um bom exemplo, pois conheço minhas limitações e dificuldades. Mesmo assim, não passo um dia sem pensar em como poderia fazer mais daquilo que faço pouco.

O texto de Paulo em Romanos 12 serve muito bem para ensinar que o modelo de avivamento em Atos 2 não é exclusivo da descida e cumprimento da profecia. Nos versos 1 e 2, Paulo nos ordena a viver para Deus como um sacrifício vivo e verdadeiro, moldando nossa mente de acordo com a vontade de Deus. Esse é o apelo para o verdadeiro avivamento, a transformação interna que acontece no crente no momento em que é avivado.

Nos versos 3-5, somos chamados a viver de maneira humilde, considerando nosso próximo como superior a nós mesmos, assim como fizeram em Atos 2 (cf. Atos 2.44). Esse estilo de vida, vida verdadeira, só pode ser experimentado numa comunidade de fé. Por isso, Paulo nos lembra que somos como um corpo, ou seja, não podemos existir sozinhos. Em Atos 2, Lucas registra que aquele povo estava unido em comunhão, basicamente se reunindo na igreja diariamente (v.42,46,47).

Em paralelo a isso, Paulo nos lembra que, pela graça de Deus, recebemos dons para servir uns aos outros (Rm 12.3-10), fazendo o máximo possível para ser o melhor para o nosso próximo. Veja como Paulo ensina: "Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. Não sejais vagarosos no cuidado" (Rm 12:10,11a).

Resumidamente, uma pessoa avivada tem sua mente transformada pelo Espírito Santo, passando a buscar a vontade de Deus e, aos poucos, abandonar seus pecados. Sua vida não pode mais ser vivida para si mesma, pois ela se torna um sacrifício vivo a Deus, agindo em nome dEle para o benefício espiritual e físico daquele povo que se chama povo de Deus. Isso inclui a evangelização em tempo e fora de tempo e ação constante na igreja para ensinar, aconselhar e aprender aquilo que é necessário para a nossa santificação.

Você consegue imaginar o impacto que seria se todos nós vivêssemos isso? As mudanças no nosso cotidiano seriam enormes e as consequências também. No entanto, é exatamente por isso que as pessoas não estão procurando o verdadeiro avivamento. Elas querem sentir o sobrenatural de Deus, mas não querem ser realmente transformadas por Ele. São pessoas curiosas, e não mais do que isso. O que acontece se essas pessoas descobrem que, ao ser avivadas, passarão a servir a Deus acima de todas as coisas e ao seu próximo com a mesma intensidade e vontade que servem a si mesmas?

Se você sente que não é como a maioria e que o Espírito Santo está te chamando para viver uma nova vida, como descrito acima, não demore a encontrar uma comunidade de fé. Não fique longe dos seus irmãos! Como alguém que sente as mesmas coisas, digo que precisamos muito da sua ajuda, pois o Brasil está entregue à religiosidade hipócrita e ao liberalismo.

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