Textos bíblicos que demonstram quão herético é o molinismo

Quando Deus determina como algo deve ser feito, Ele já sabe que, por si só, o ser humano não o realizaria conforme Sua vontade. Por isso, Ele não poderia depender do que eventualmente acontecesse sem antes definir o que deve ser feito e como deve ser avaliado.

Luis de Molina, teólogo jesuíta espanhol do século XVI, ficou conhecido por desenvolver a doutrina da "scientia media", uma tentativa de reconciliar a presciência divina com o livre-arbítrio humano. Em sua obra "Liberi arbitrii cum gratiae donis, divina praescientia, providentia, praedestinatione et reprobatione, concordia" (1588), fica claro que o monge tinha inclinações tanto para a doutrina da predestinação quanto para a heresia do semipelagianismo. É evidente que os crentes adeptos do semipelagianismo tendem a não levar muito a sério suas crenças e costumam abraçar tudo que, do ponto de vista humano, faz sentido. Esse é um retrato do arminianismo moderno com o qual precisamos lidar hoje.


A principal doutrina do molinismo é o conhecimento médio (scientia media), que apresenta Deus como um ser de possibilidades e o ser humano como um agente ativo dentro de Sua soberania. Em outras palavras, segundo essa visão, Deus depende das decisões humanas para definir o curso dos acontecimentos. Ao falar de um "conhecimento médio", afirma-se que Deus sabe o que pode acontecer, mas não necessariamente o que acontecerá, e, por isso, as escolhas humanas se tornam fundamentais para delinear Seus planos.

Essa doutrina representa uma tentativa de equilibrar a relação entre Deus e o ser humano, sugerindo, implicitamente, que Deus não poderia determinar o futuro sem considerar o livre-arbítrio humano. Essa visão eleva o ser humano a um patamar próximo ao de Deus, conferindo-lhe um poder de decisão comparável. Trata-se, sem dúvida, de uma posição que desafia a soberania divina, ao propor que Deus, embora soberano, deveria considerar a liberdade humana ao tomar Suas decisões.

Outro conceito associado é a chamada "liberdade libertária", segundo a qual o ser humano é capaz de tomar decisões absolutamente livres, sem qualquer influência externa — seja de outros indivíduos ou do próprio Deus. Essa ideia, por sua vez, questiona a soberania divina ao sugerir que Deus não deveria interferir ou influenciar a vontade humana, estabelecendo uma barreira que limita Sua atuação nas escolhas do homem.

O molinismo, assim como o semipelagianismo e, consequentemente, o arminianismo, tenta afastar Deus da vida humana ao sugerir que é Ele quem deve aguardar a vontade e as decisões do homem. Esses pensamentos afirmam que Deus não poderia estabelecer um plano sem antes considerar nossas opiniões e vontades. Isso lembra a mensagem da serpente no Éden? Sem dúvida, é a mesma mensagem da serpente (Satanás).

De acordo com o molinismo, Salomão estaria equivocado ao dizer que os planos humanos estão sob a vontade de Deus (Pv 16:1-2). Afirmar que Deus molda o coração de um rei como guia os rios seria um ponto de vista totalmente contrário a essa doutrina. No entanto, é exatamente isso que a Bíblia ensina. Em Provérbios 21, o profeta declara: “Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei na mão do SENHOR, que o inclina a todo o seu querer.” Essa passagem demonstra claramente como a Escritura se opõe à doutrina molinista. Se Deus tivesse que “descobrir”, observando o futuro, quais ações o homem tomaria, não poderia moldar essas ações, o que contraria o que a Bíblia ensina em diversos trechos.

Deus molda a nossa liberdade porque, sem isso, não poderíamos ser salvos. A realidade bíblica é oposta ao que o molinismo prega. Deus conhece a nossa vontade; Davi escreve que Ele sonda nossa mente (Sl 139) e, justamente por isso, molda nossas decisões para que estejam em conformidade com Sua soberana vontade.

Não é incorreto dizer que Deus conhece a vida das pessoas e sabe as decisões que elas tomarão. O erro está em afirmar que Ele precisa, obrigatoriamente, construir Seus planos com base nas escolhas humanas. Esse “equilíbrio” que o molinismo propõe não reflete a visão bíblica e, filosoficamente, também não faz sentido. Se consideramos um Deus que depende do ser humano, estamos diante de um conceito de divindade que não corresponde ao Deus da Bíblia. Nesse caso, seria necessário conceber um outro “deus” para fazer sentido logicamente, pois, ao analisarmos as Escrituras, vemos que Deus não depende das ações humanas para definir Seus planos. É impossível que as duas verdades, a do molinismo e a da Bíblia, sejam verdadeiras ao mesmo tempo e, ainda, contraditórias. Ou Molina errou, ou a Bíblia está equivocada.

Para o molinismo, Deus teria errado, por exemplo, ao encerrar os soldados egípcios no Mar Vermelho ou ao não marcar as casas dos egípcios, permitindo que o anjo da morte as passasse sem proteção, como um sinal de Seu juízo. Será que Deus considerou as decisões individuais dessas pessoas antes de agir? Ou agiu conforme Sua vontade, sem consultar as mães egípcias? Imagine se Deus tivesse perguntado àquelas mães sobre o que faria naquela noite; será que, entre a vida dos próprios filhos e a religião, elas realmente escolheriam a morte? Essa reflexão expõe a fragilidade do molinismo diante da verdade bíblica. Para um crente que adota essa visão, ler um texto como esse pode soar absurdo — e é possível até que alguns abandonem a fé ao se confrontarem com a realidade das Escrituras.

Quando Jesus encontrou a mulher samaritana no poço de Jacó, Ele conhecia todas as escolhas que ela havia feito. Sabendo tudo sobre sua vida e seu coração, passou por ali para transformá-la. Se tivesse feito o mesmo com o jovem rico, ele não teria sido salvo também? E se tivesse agido assim com os habitantes da terra antes do dilúvio, não poderiam todos ter sido salvos? Por que Ele não o fez? Porque não quis fazer assim. Aquela mulher no poço era tão pecadora quanto os moradores de Sodoma e Gomorra. Em que decisão Deus se apoiou para salvá-la? E se as crianças de Sodoma tivessem tido a chance de responder ao Anjo, será que não teriam tomado uma decisão semelhante? Por que essa oportunidade não lhes foi dada? Porque não era essa a vontade de Deus. Isso demonstra que Deus não decreta o que fará com base nas escolhas humanas, mas segundo Sua própria e soberana vontade.

Mas isso torna Deus injusto? Ora, se você ainda não estudou Romanos 9, sugiro que o faça antes de levantar essa questão. Lá, perceberá que esse argumento, embora comum, foi superado há mais de dois mil anos.

Por fim, é importante lembrar que Deus conhece perfeitamente as escolhas que fazemos e, por isso, assegura que nada do que façamos O fará desistir de nossa salvação. Por meio da pregação de Sua Palavra e da ação do Espírito (Ez 36:26-27; Rm 12:1-2), Ele não apenas nos instrui e sensibiliza, mas também garante que realizemos tudo o que determinou para cada um de nós. Se você ainda tem dúvidas sobre o quão herético é o molinismo, estude a Bíblia e ore para que Ele mesmo lhe revele a verdade.

Fonte de pesquisa: https://www.repositoriocristao.com/conte%C3%BAdo/biografias/luis-de-molina

Texto: Devair S. Eduardo - EATRE

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