O que acontece quando morremos?


O que acontece quando morremos?

Há tempos almejo verter estas palavras, mas não ao modo costumeiro. Desejo narrar isto de maneira íntima, como se ponderasse seriamente sobre o tema. O que transpira quando cruzamos o limiar da vida? E por que o pavor obstrui a trilha rumo ao conhecimento? Eis que é instigante dar início com a última interrogação, talvez eu a explorasse enquanto mergulhado na meditação deste tópico.

O temor da morte reside em nosso âmago, porquanto nossa alma anseia pela chama vital. Nascemos, assim orquestrado por Divina ação, e por conseguinte, um recôndito rincão de nosso ser ecoa que nosso destino é a vida. Apavora-nos contrariar a lei essencial da existência, viver!

Todos nós surgimos para viver, em qualquer fase, em qualquer canto e era. A humanidade, criação divinal, é forjada para a existência, e a mera noção de um dia descurarmos esta lei primordial nos infunde um terrível arrepio! É verdade que nossas agruras por vezes arrebatam a vontade de prosseguir, todavia no âmago, anela cada um de nós pela vida. Anseie pela vida, pois é sublime! À semelhança, fomos criados.

O medo da finitude persiste, pois, apesar de cientes de que um dia todo ser ceifa a jornada terrena, incerteza prevalece sobre merecermos algo mais aprazível após o derradeiro sopro do que já colhemos neste existir. O medo é o derradeiro suspiro e o receio de descobrir que receberemos em dobro o que verdadeiramente labutamos nesta humanidade tão frágil. Com efeito, esta inquietação será fardo eterno para a maioria que hoje peregrina sob o sol. Contudo, um só caminho jaz à frente para se sobrepor ao temor da partida: desvendar o após-morte.

Na senda deste desvelamento, uma verdade primeira deve ser abraçada, sendo ao mesmo tempo bálsamo e assombro. O falecer não é fim da existência. Cada ente humano gerado é eterno, o passamento marca transição de estado. Em solo terreno, temporariamente repousamos, nosso invólucro à terra retorna, mas nosso espírito em outro âmbito perpetua. Descartemos a ideia de que nosso espírito reencarna nesta esfera. A crônica do mundo demonstra, inequivocamente, que aqui é vivência única. Para onde nos encaminhamos, pós-morte?

Permiti-me entoar um sonho. Certo estou de que a influência de minha cultura e os ensinamentos da Sacra Escritura emolduraram essa visão, sem recuar ou envergonhar-me, pois a Bíblia é meu farol. Meu sonho transporta-me a um cenário distante do cotidiano, contudo imbuído de sensações terrenas e gratificantes.

Minha esposa e eu ingressamos numa região de sombras, contudo sem conotação adversa. Era um lugar onde a serenidade dominava, como uma noite estrelada onde a brisa acaricia o ambiente. Já experimentou tal sensação? Alçávamo-nos numa casa, sob aura de domingo, almas afáveis e de modo intrigante, atravessávamos pessoas e residências, tangenciando suas essências. Sim, de uma moradia à outra, sem portas, barreiras ou trancas. Casa se entrelaçava a casa, como se portas fossem desnecessárias. Era um grande recinto, habitado por casas interiores. Não era necessário sair para adentrar noutra, pois todas coexistiam. Sentado num sofá de matizes terrosos, tão aconchegante que acredito ter sido acolhido por sua maciez. Logo depois, minha esposa me instigou a prosseguir por essas casas. Recordo agora, nelas não existiam cozinhas ou banheiros, apenas salas!

Num dado ponto, divisamos uma área externa, e o clima era inalterado, mas lá ressoavam cânticos. Partimos, e a sensação era de ter chegado ao epicentro da vasta edificação. Completamente vívida, a imagem das pessoas em torno de uma alta fogueira persiste. Ali dialogavam em tom amigável. Alguém dedilhava um violão, outros ecoavam o som. Culto, mas também um lar onde todos se sentiam à vontade. Qual irmãos reunidos após longa ausência. Entabulava-se conversas com todos, cumprimentando e abraçando a todos, até parar para diálogo mais profundo com um deles. Este era o cenário, mas de percepção eterna. Quando nos abismamos naquele ponto, a sensação era de estar envolto em abraços, emanados de maneira enigmática por todos. Era como se tivéssemos alcançado a morada daquele parente distante, reencontro após longo intervalo. Hesitávamos inicialmente, mas logo aconchegados nos sentíamos.

Noutro sonho, acolhiam-me algumas almas em local similar. Celebravam algo e, ao chegar, um senhor de meia-idade, inexplicavelmente familiar, me saudou e apresentou aos demais. Era uma festividade majestosa, sentindo que eu não era o último a chegar, que mais almas se somariam. Despertei quando seus traços se desenhavam na minha visão, preservado em minha memória, ainda que suas feições me escapem, sei que, se porventura cruzar com ele, o reconhecimento será imediato.

A Sagrada Escritura entoa sobre um refúgio de repouso, destinado a acolher-nos após o último suspiro, porém esse é apenas um dentre os dois destinos perpétuos. Dois destinos ressoam na eternidade, e gratidão a Deus, não ousou minha mente tangenciar o segundo.

Este segundo paragem fora pintada como um rincão de tormento e terror, um contraste insondável ao éden celeste, um abismo inerme do término. Lá, indivíduos, homens e mulheres, amparar-se-ão em plena liberdade, destituídos da temida amarra da moralidade religiosa, até que a verdade, traiçoeira e infinita, se revele: a penalidade imorredoura reside precisamente nesse alvorecer. Será que estas paragens etéreas resplandecerão em chamas, abrasadoras, de horizonte a horizonte? Conquanto as labaredas certamente dançarão, o cerne do inferno reside em um âmago mais profundo.

O fogo, ao desvelar nas páginas da Escritura, assume um matiz sombrio, portador de infortúnio. Não é o fogo que inflige queimaduras, mas sim a chaga latente e contínua. Tenta conceber a que profundidades pode o ser humano mergulhar em afligir seu irmão! Percebe, acaso, que é quando desvencilhamos as amarras sociais que a dor e o pesar florescem nas almas alheias? Contempla, por um momento, o que precede o adultério. Um ser, à beira do leito, prestes a ceder à paixão fugaz, mas atenta, isso é a transgressão das normas moralistas tão desacatadas pelo mundo. Porém, quando ocorre, ao menos uma alma padece em silêncio. Ao afrouxarmos as amarras, infligimos tormento ao próximo. Agora, amplia isso ao globo, imagina um horizonte sem restrições, onde teus caprichos são lei! Contudo, o próximo também obtém idêntico privilégio. O que impede que alguém te subtraia? A benevolência humana? Ou a lei do Senhor (Não furtarás)? A desolação do mundo é a consequência da volição desenfreada, dos seres que ignoram as regras morais inscritas nos mandamentos divinos. És livre, então és livre para escolher. Normalmente, optamos por utilizar tal liberdade em cometimentos que a Bíblia condena como pecado, e quando a verdade aflora, surge o pesar, lágrimas, possivelmente até o ranger de dentes.

Contudo, a quem recorrerás quando tal desventura assolar? A ninguém! As lágrimas aliviarão o fardo? Não! Formular uma nova regra consertará o caos no submundo? Não, pois os seres são livres para agir conforme desejarem, e tuas limitações, decerto, infligirão mais agruras. O inferno reverbera com dor eterna, à luz da experiência humana. Se conheces um coração impiedoso, contempla que no âmago deste abismo tal índole se disseminará. Caso não compartilhes desta natureza, te tornarás o mais vulnerável de todos. Se julgas ser capaz de tal maldade, cedo perceberás que existem malfeitores piores que tu. Uma sociedade absolutamente liberta, em toda a abrangência da palavra.

Compreendo que, perante as duas veredas, sua escolha recairá no reino de meus sonhos. Tal seleção é sábia, sem dúvida. Possivelmente, anseia compreender como merecer tal esfera, contudo, respondo-lhe que méritos jamais serão angariados! Nem mesmo quando adentrar essa paragem além da vida. Jesus, indubitavelmente, é o único trajeto a este paraíso, e se porventura discerniu que seu merecimento é inexistente, reflita que nenhum dentre nós é digno. A conquista se dá pela fé. Acreditar em Jesus é o momento em que se ajoelha, admitindo a própria fragilidade e rendendo-se a Ele. Daqui em diante, o caminho é d'Ele, a esperança é d'Ele, e só n'Ele repousa o refúgio.

Tudo isso orbita na fé em Jesus. Embora desconheça sua face, anelo encontrá-lo em breve, neste rincão gracioso.


Amém.

(Mt 16.24; Jo 14.2,3,6; At 4.12; Gl 2.20; Ef 2.8-9; Hb 11.6 / Mt 7.13,14; 13.42; 25.41; Gl 6.8; Fp 3.19; 2Ts 1.9

Texto: Devair S. Eduardo
Revisão: OpenAI

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