Por que apoiamos o texto recebido, se grande parte dos teólogos mais famosos apoiam os textos críticos?


Um dos vídeos do nosso canal no YouTube trouxe uma questão que precisa de uma resposta dedicada devido a qualidade e importância. É fato que eu defendo o texto recebido como melhor conjunto de pergaminhos para tradução da Bíblia sagrada. Não apenas defendo, mas faço questão de expressar minha insatisfação com traduções que usam textos críticos. A grande questão é que a maioria dos teólogos famosos apoiam exatamente o contrário! Por que?

A resposta que vamos trabalhar vem dessa pergunta:
“Só queria entender por que você desconsidera as novas versões NAA, NVI e NVT sendo que muitos mestres em grego a utilizam e aprovam. Será que vc não deve rever esses conceitos?”

A primeira coisa que quero esclarecer é que, quando falamos sobre texto crítico e recebido, estamos falando dos pergaminhos em grego do Novo Testamento, mas também nos referimos aos pergaminhos do Antigo Testamento, pois, geralmente, editoras que escolhem o texto crítico usam pergaminhos estranhos para o Antigo testamento (geralmente partes dos achados do mar morto). Alguns mudam muito o contexto do texto e foi num comentário do Antigo Testamento que eu descobri a enorme diferença entre eles.
O texto que despertou a minha atenção para a questão veio de um comentário de Spurgeon do Salmo 139.16, Spurgeon comenta: “Este versículo é de tradução extremamente difícil, mas nós não pensamos que nenhuma das correções propostas seja melhor do que a tradução que nos é propiciada pela Versão Autorizada, em inglês.” (Os tesouros de Davi, vol. 3 – CPAD). Versão autorizada é uma referência antiga da tradução King James, que hoje temos como King James 1611, no Brasil.
Compare:
  • BKJ 1611: “Os teus olhos viram a minha matéria ainda imperfeita; e no teu livro todos os meus membros foram escritos, os quais eram continuamente formados, quando nem ainda havia nenhum deles”;
  • NVI: “Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir”;
  • ACF: “Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia”.
Veja bem, eu sou calvinista e creio muito na interpretação da NVI sobre os decretos de Deus. Mas levando em conta o que Spurgeon disse e a posição que tinha quanto pastor, pregador e mestre, preciso considerar a sua observação, mesmo que, como calvinista a interpretação da NVI me chame mais atenção. A grande questão aqui é, que Spurgeon já havia percebido que a Bíblia Sagrada havia passado por revisões e não aprovava algumas delas. Só lemos dele quanto ao texto de Salmos, mas hoje sabemos haver muito mais do que isso.

A segunda informação relevante sobre esta questão está na origem dos pergaminhos que geraram as traduções modernas. Essa informação é negada aos estudantes e colocada sob desconfiança propositalmente para apoiar suas traduções modernas e esquisitas. Vocês precisam entender que, a base das traduções modernas são os pergaminhos encontrados (se é que foram mesmo encontrados) em locais onde a cultura gnóstica já havia dominado, ou influenciado suficientemente para que aqueles antigos escritores pudessem transmitir parte das suas crenças [gnósticas] aos pergaminhos estavam produzindo. Lembre-se, os antigos escribas eram responsáveis por copiar. O que aconteceria se escribas começassem a abraçar crenças estranhas? Foi no meio judeu que a religião a Jeová começou a ser distorcida. Foi nesse meio, por exemplo, que a cabala se desenvolveu e se você pegar um livro dessa religião vai encontrar o mesmo argumento usado hoje em dia pelos críticos textuais para que você aceite traduções como NVI, NAA e cia, como os mais antigos textos.

É importante ter em mente que não existem mais originais como nos tempos de Jesus – aliás, Jesus não lia pergaminhos originais, ele lia textos copiados, assim como lemos hoje. Então, se você não pode confiar no escriba, automaticamente, não pode confiar no “melhor original” que ele produziu. [Um exemplo] Se um pergaminho antigo surgir dentro de um centro de umbanda, mesmo que seja o mais antigo do mundo, você precisará considerar quanto de influência da religião umbandista foi passada no processo de cópia.

Um estudo mais recente mostra que há pelo menos dois grandes problemas nos pergaminhos usados hoje como base para o texto atualizado: 1) foram encontrados em locais com influência mística ou gnóstica - mesmo assim partes muito pequenas para ser considerado relevante para construção de uma tradução; 2) os pesquisadores que os encontraram tinham certa inclinação para o misticismo que estava crescendo na época em que foram encontrados - o que deixa um vazio profundo sobre a questão: foram mesmo encontrados ou criados?


Você pode achar essa ideia absurda, mas não é. No segundo século os gnósticos invadiam as igrejas, faziam amizade com os membros e posteriormente os convidava para um culto particular. Este culto era parte da religião gnóstica e assim removiam muitos crentes da fé verdadeira. Foram os mesmos gnósticos que escreveram os textos apócrifos e disseminaram a ideia de que foram removidos na Bíblia, mesmo que, na realidade, nunca estiveram nela. Essas estratégias são antigas e sempre deram resultado. Esse mesmo povo está agindo até hoje [para mais informações sobre isso, leia Contra as Heresias de Irineu de Lião].
É curioso o irmão (que fez a pergunta) comentar que só eu defendo o texto recebido e rejeito a NVI, pois muitos escritores antigos alertaram sobre o surgimento desse tipo de tradução. Dentre eles o meu preferido é Peter Jones. Sua obra A ameaça pagã já nos alertava sobre uma religião da nova era que exigia uma nova Bíblia também. Esta nova bíblia é o que temos hoje sendo vendida e fabricada pela maioria das editoras no Brasil Além destas informações há muito mais sobre esse assunto, porém, ele foi abafado no Brasil, talvez por motivos comerciais ou religiosos.

Por último percebi que, teólogos que se dedicam à teologia pastoral e sistemática não se dedicam muito a esse assunto. Digo por experiência própria. Estamos tão ocupados com outras questões que, parar para analisar a origem dos pergaminhos e a história dos achados se torna um peso difícil de carregar. Mas considero a pesquisa importante. Veja por exemplo o que descobri sobre os textos usados na tradução do Novo Testamento Peshitta, vendida hoje por duas editoras no Brasil. Acesse o vídeo clicando aqui.
Então, dizer que teólogos importantes não concordam comigo quanto a tradução utilizada não resolve o problema histórico dos pergaminhos utilizados. Estas pessoas não estudam os dois lados da moeda, muito menos leem traduções de texto recebidas.

Em pelo menos dois vídeos importantes, de teólogos no Brasil, é possível perceber que não sabem do que estão falando. Augustus Nicodemus e Yago Martins, por exemplo, quando falam sobre o tema usam argumentos antigos, que se referiam à ARC de 1995 e que hoje em dia não usa mais como base os textos recebidos. Quando citam os textos recebidos demonstram claramente não entender o texto em questão e usam argumentos fracos demais para serem levados à sério. Isso demonstra que, mesmo sendo famosos (quase deuses para os estudantes fanáticos no Brasil), não entendem corretamente o assunto. Eu não sou melhor do que eles, mas eles não se esforçam como eu para procurar as respostas sobre os problemas citados acima. Como são mais “importantes” e influentes do que eu, vocês ficaram reféns dos espantalhos criados para enriquecer editoras e distrair o público que inocentemente fica sem conhecer de verdade a questão.

O que eu recomendo que façam? Recomendo que comparem os textos. Dediquem tempo à leitura de traduções como Almeida Revista Fiel e a King James 1611 e comparem com o que os “acadêmicos” falam da NVI e cia. Tirem suas próprias conclusões sem se deixar levar pela opinião de famosos, pois não são os famosos quem definem as coisas, são os estudantes. Muitos famosos da internet não conhecem a fundo o assunto, mas são pagos por editoras famosas para vender suas Bíblias e fazem isso muito bem. Do outro lado estamos nós, que comparamos, estudamos a história e chegamos à conclusão lógica e racional de que os pergaminhos usados para traduzir as Bíblias modernas não são bons suficientes para serem considerados “melhores originais”.

Devair S. Eduardo
Palavras em Chamas

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