OS 4 ANIMAIS EM DANIEL 7

OS 4 ANIMAIS EM DANIEL 7

Em um vídeo review sobre um livro amilenista, um irmão levantou uma questão que me levou diretamente ao capítulo 7 de Daniel. A grande questão foi esta: Quando os santos julgarão a terra e os anjos? Provavelmente a pergunta é extraída de 1Co 6.2-3, onde Paulo está tratando daqueles crentes que processavam seus irmãos usando a justiça humana ao invés de irem aos líderes cristãos para serem aconselhados. Embora Paulo não estivesse tratando dos últimos acontecimentos, isso fica explícito no capítulo inteiro, ele levanta uma questão no mínimo curiosa.
Eu acreditei, e ainda creio, que, pela propagação do evangelho os crentes julgam o mundo. Não de maneira literal, pois só Deus pode julgar e condenar e de fato fará isso na volta de Jesus, mas de forma indireta estamos julgando o mundo quando dissemos que sem Jesus não há salvação, ou ainda quando falamos sobre o estado eterno das almas que morrem sem Ele. Isso também é um julgamento e fazemos isto toda vez que pregamos o evangelho. O problema é que talvez algumas pessoas associem este texto com o de Daniel 7.9-11 onde vemos os santos em volta do trono de Deus em pleno julgamento. É sobre esta ligação que quero tratar neste breve texto.


A visão dos quatro animais revela muitas coisas curiosas sobre a história da humanidade e o fim dos tempos e isto, claro, levanta centenas de teorias sobre como e quando tudo aquilo acontece ou acontecerá. Alguns creem que ela toda já foi concluída, acredito que não, estamos neste processo por alguns motivos que trato a seguir.

OS ELEMENTOS DA VISÃO

Vou descrever os elementos principais da visão e o que eles podem simbolizar tanto para nós como para Daniel na época que sonhou.
A. Quatro ventos sopram sobre o grande mar: A ideia aqui é que estes quatro ventos sopram com violência o mar, na versão KJF usaram o termo “irrompem” para demonstrar como eles invadem ou intervem no movimento do mar. O grande mar geralmente é usado para se referir a todas as nações e pessoas. É um símbolo de toda humanidade. Isso significa que os quatro ventos vão mudar o curso de toda a terra. O número quatro é usado quase sempre para se referir ao alcance global, estes aqui podem estar simbolizando a ação de Deus na história da terra.
B. Quatro animais distintos: Novamente o número quatro aplicado a animais que como explica o profeta simbolizam reinos e reis. Muitos imaginam que sejam os reinos da época de Daniel, como a Babilônia, por exemplo. Eu acho esta explicação muito favorável, mas quando vemos o número quatro, precisamos entender que o profeta está falando sobre toda a terra, não apenas reinos locais. Como é uma visão dada por Deus não podemos imaginar que para Deus aquele reino era a totalidade da terra uma vez que o Senhor contempla toda a terra em todo o tempo. Para mim, são quatro tipos de reinos. Maneiras diferentes de reinar sobre a terra e não reis apenas. Vou falar sobre isso mais adiante.
C. Dez chifres e um chifre inferior: No último reino, o pior de todos, o profeta enxerga 10 chifres que mais tarde serão identificados como reis. Portanto, o último tipo de governo, mais cruel de todos terá 10 reis principais, porém, um 11º rei surge vencendo 3 anteriores e dominando o mundo inteiro. Este não é apenas um rei, mas um tipo de rei completamente apóstata e persuasivo. O profeta chega a elogiar sua maneira de falar pelo menos 2 vezes no texto inteiro, o que nos leva a pensar que este rei fala de forma inteligente, persuasiva e contrária à vontade de Deus.
D. Um Ancião de dias: Aplicar o termo ancião, que por si só significa alguém antigo, a “de dias” só pode se referir a alguém que não é apenas antigo, mas eterno. Este é o símbolo dado a Deus aqui. O ancião de dias é o próprio Deus que governa toda a criação e julga o tempo todo.
E. O trono do julgamento: Esta cena é bem parecida com o que lemos em Apocalipse, exceto que aqui o profeta enxerga o caminho daqueles que serão condenados pelo juiz. O fogo é usado geralmente para se referir ao sofrimento ou provação, num sentido de provocar sofrimento por algum mal cometido. Aqui temos um rio de fogo e em Apocalipse João descreve um lago de fogo, onde serão trancados para sempre aqueles que ignoraram Deus enquanto vivos. Este não é um trono de juízo temporário e político, como os preteristas costumam pensar, esta cena mostra o juízo eterno na volta de Jesus.
F. O Reino dos céus: Este é o reino almejado por todos que viveram e vivem crendo em Jesus. Com a sua vinda na terra foi instituído o seu Reino, porém, é na sua volta que ele será eterno e dominante. João escreve que após o juízo final toda a criação será restaurada e então descerá dos céus uma cidade santa, que escreveu anteriormente estar Jesus preparando agora mesmo. Este Reino não é como os preteristas ensinam, ele não vai ser erguido no mundo ainda contaminado pelo pecado, mas após o grande juízo, como o texto de Daniel também nos leva a concluir.
G. O filho do homem: Muito provavelmente a figura do próprio Messias, que vem até o ancião de dias numa nuvem e recebe poder e autoridade sobre o Reino dos Céus. Este domínio não é como o dos animais, ele é eterno e envolve toda a terra. Podemos pensar que isso tenha acontecido com Jesus já na sua primeira vinda, isso parece correto, mas aqui me parece ser o Reino consumado, na volta dEle. Porque nesta visão não temos dois tipos de povos, como o que temos visto desde a primeira vinda de Jesus, mas um único povo para um reino eterno. Embora o Reino de Deus seja eterno agora mesmo, ele ainda não é como será na volta de Jesus como descrito por João em Apocalipse.
H. Milhares de milhares: esta é a provável referencia usada para afirmar que julgaremos os povos e os anjos. Daniel enxerga muitas pessoas em volta do trono do Ancião de dias enquanto são abertos livros. Livro é usado sempre para se referir à vida das pessoas e seu significado é muito profundo, pois um livro pode ser escrito, mas não apagado ou modificado. Então quando são abertos os livros que provavelmente contém toda a nossa história, aqueles crentes que já estão próximos a Deus podem acompanhar o julgamento de perto. Isso não significa que serão juízes, mas que estão perto do juiz no momento do juízo final. João descreve uma cena parecida em Ap 7.9-16.

A INTERPRETAÇÃO

Hernandes Dias Lopes nos faz pensar numa interpretação espiritual do que Daniel escreve no capítulo 2 onde desvenda o sonho de Nabucodonosor sobre a estátua que será destruída pelo Messias vindouro (representado ali como uma rocha). Ele também entende que na figura daquela estátua Deus mostrou todos os reinos da terra até a volta de Jesus. Isso faz muito sentido para mim. Porém, há um pequeno perigo de encerrar esta história antes da hora, algo que é bem comum com os preteristas modernos. Veja como Hernandes explica os 3 primeiros animais:
“Esses quatro animais representam quatro reis, ou seja, quatro impérios (Dn 7.3-7,17). Em primeiro lugar, vemos o leão, símbolo babilônico (v.4). O leão é o rei dos animais e a águia, a rainha das aves. Ambos são símbolos da grandeza da Babilônia […] o urso, símbolo do império medo-persa (v.5), um império formado pela coligação de dois povos: os medos e os persas. Esse império foi descrito em Daniel 2.32,39. Essas três costelas na boca do urso simbolizam os três reinos conquistados: Lídia, Egito e Babilônia […] o leopardo, símbolo do império grego (v.6). O leopardo alado é um símbolo de grande velocidade e agilidade de movimentos. Esse animal simboliza o império greco-macedônio” (Daniel, um homem amado no céu – Hernandes Dias Lopes, Ed. Hagnos).

O quarto reino para Hernandes é o império Romano, porém ele também simboliza o reino do anti cristo. Aqui ele chega bem perto do preterismo parcial, mas se afasta quando aplica outro significado ao reino Romano literal quando fala sobre o chifre que surge dele. E se o chifre surge deste império, temos de aceitar que o seu julgamento envolve também o quarto reino e isso também significa o fim de toda história [se seguirmos o que Daniel escreveu]. Algo que obviamente não aconteceu ainda. Por isso creio que esta visão demonstra quatro tipos de reinados diferentes. Eles evoluem para o quarto tipo e deste surge o anticristo. Veja que do primeiro ao terceiro animal temos uma evolução facilmente perceptível. O primeiro era limitado, embora poderoso. O segundo era uma junção de dois reinos, mais violento, mas ainda limitado e o terceiro era ágil, com quatro asas e quatro cabeças (ou seja, ele já estaria em toda terra) e recebeu justamente “domínio” (v.6).
Na prática, o quarto tipo de reinado possuí os mesmos poderes dos demais, porém, aqui surge algo que provavelmente envolve toda a terra. Enquanto Daniel prestava atenção aos dez chifres um décimo primeiro surge e derrota três. E sua característica principal é descrita assim: “falava grandes coisas” (v.8). Este chifre é diferente. Ele é ao mesmo tempo, poderoso em suas ações e palavras e isto é uma grande evolução do primeiro tipo de reinado, que era apenas violento e poderoso. O grande poder deste ultimo tipo de reino é a persuasão e é assim que provavelmente vai convencer o mundo contra Deus. Política persuasiva contra a vontade de Deus, algo que temos visto crescer desde que o romanismo tomou conta do cristianismo. Hoje entendemos que o verdadeiro poder não consegue ser exercido apenas com autoritarismo e violência. Ele precisa ser convincente! Aqui temos uma aproximação muito grande com as duas bestas descritas em Ap 13 e provavelmente o retrato da última geração de pessoas na terra. Estes serão os primeiros a receberem o juízo divino, em seguida, todos serão julgados e condenados também. Isto é, o último reino da terra será completamente satânico em relação a sua filosofia e cultura e será a geração que mais sofrerá nas mãos de Deus.
Hoje temos exemplos dos quatro modos de reinar, embora o último tenha se levantado com maior poder agora mesmo (veja como a esquerda se prepara no mundo inteiro). Entre os séculos III e agora muitos cristãos sentiram na pele o ódio deste modelo de reino quando perseguidos e mortos em diferentes épocas da história. Mas o que vemos hoje é a ação deste “chifre” que fala coisas grandes e com isso convence a maioria das pessoas a abandonar Deus. Não há mais temor nas pessoas quanto ao ser de Deus e aos poucos estão sendo convencidos de que este é o melhor caminho. Estão confiantes de que essa maneira de viver é a que faz mais sentido e isso está espalhado por toda terra, muito mais agora do que no passado. A conclusão da visão de Daniel é esta:
Os moradores da terra serão cada vez mais ímpios e isso é manifesto na maneira como reinam. Esta impiedade não irá parar de crescer até que surja um tipo de reino totalmente contrário às coisas de Deus. Este perseguirá de diversas maneiras o povo de Deus e os vencerá em muitas ocasiões, como vemos na história e nos jornais atuais. Este último rei será o nosso maior desafio, mas ele será plenamente derrotado por Deus em seu juízo. Deus não apenas o derrotará, mas desfará completamente o seu reino (v.11). Quando isso acontecer (espero que seja em breve) Deus julgará toda a terra e aqueles que viveram contrários a Ele receberão o mesmo destino eterno. Há no texto esperança de que embora sejamos confrontados neste mundo, em breve estaremos no Reino de Deus, plenamente instituído na terra (segundo os apóstolos esta terra será restaurada também). Um Rei eterno, um Reino eterno e uma eternidade para aqueles que morreram por causa de Cristo. Este é o consolo apresentado no texto. Isto mostra que o nosso medo não precisa nos travar. Não precisamos ter medo deste reino que cresce contra o povo de Deus, pois em breve ele será julgado e condenado e nós, que sofrermos por ele receberemos a benção de Deus para todo sempre.

O FIM DA HISTÓRIA HUMANA

O texto não termina com a triste notícia sobre o quarto reino. Ele termina com a vitória do povo de Deus sobre os reinos da terra. Temos ali um Ancião de dias, um trono e um reino eterno. Lemos sobre a severidade do julgamento sobre os reinos contrários a Deus. Diferente do Reino de Deus, o quarto reino, com seu perigoso chifre (governo) provocarão a terra inteira, mas não por muito tempo. É importante focarmos neste fato além daquele anterior. Geralmente focamos nos perigos, nas perseguições e mortes, mas Daniel está vendo um último poderoso e soberano juízo que recai sobre todos os reinos da terra. João descreveu esse momento como um evento onde os céus e a terra passam e restam apenas o juiz, seu trono e todos os moradores da terra (Ap 20.11-14). Jesus também ensinou sobre este momento, onde todas as pessoas comparecerão diante dele em juízo final, ali separará a humanidade em dois grupos eternos, um para o castigo eterno e outro para o Reino eterno (Mt 26.31-46), suas últimas palavras neste sermão resumem muito bem a história da humanidade: “E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna” (v.46 ACF).
A sequência de fatos descrita por Daniel pode ser resumida assim: Os reinos da terra crescem contra o povo de Deus. Um último reino surge, mais perigoso, violento e dominador. Deste surge um tipo de rei que age exatamente como as duas bestas em Ap 13. Deus está, desde o início observando tudo. Na verdade Ele é o Senhor da história e nada acontece sem que permita. O seu trono está pronto, e Ele está assentado para julgar. Aqueles que morrem em Cristo estão ao seu lado observando todo o juízo. Quando o governo do último chifre atinge seu ápice Deus o julga, derrota e aprisiona para sempre o inferno. Após isso os demais povos são julgados e condenados aqueles que seguiram os reinos da terra, ninguém é esquecido no dia do juízo final. Enfim, estaremos com nosso Senhor num Reino único, perfeito e eterno. Para sempre com Deus. O nosso Senhor finalmente “limpará de seus [nossos] olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21.4 ACF). Este Reino é semelhante ao que experimentamos agora, porém, muito mais do que isso ele é um “reino tal, que não será destruído”, isso porque não estaremos mais sob domínio de reinos humanos, mas ao Filho “foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará” (Dn 7.14 ACF).

Deus está revelando o fim desde o início para que saibamos que tudo que acontece está debaixo dos seus propósitos e não há quem surpreenda seus planos. O rumo da nossa história, em alguns momentos, nos dá impressão de que Deus não está tão presente quanto poderia, ou que Ele não está ajudando o seu povo, mas a realidade é que todos os acontecimentos, incluindo os dias ruins estão trabalhando para o propósito eterno de Deus. Se entendermos isso hoje não seremos jamais surpreendidos pelo que nos espera amanhã. É importante lembrar isso todos os dias, e glorificar a Deus por termos a oportunidade de conhecer tamanha verdade sobre a nossa história.
Que Deus nos abençoe, e nos prepare para o dia mal, pois, se a sua vontade for essa precisaremos estar firmes diante de qualquer tribulação. Amém.

Comentários

  1. Chegou na hora certa, obrigado pelo texto foi de grande consolo a exposição da nossa esperança

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