Como Deus vai condenar pessoas que Ele mesmo não quis conceder fé?


MEMBRO DO CANAL:
Devair, uma pergunta: Creio que você concorda que Deus irá mandar muita gente para o inferno por causa da incredulidade. Aí te pergunto, como Deus vai condenar pessoas que Ele mesmo não quis conceder fé? (Já que no calvinismo é o próprio Deus que concede a fé).

RESPOSTA DO CANAL:
A pergunta, apesar de provocativa, é bastante interessante e com certeza nos leva a pensar na soberania de Deus, mas creio que devemos considera-la em partes para entender melhor a resposta, vamos lá:
A - "Creio que você concorda que Deus irá mandar muita gente para o inferno por causa da incredulidade"
A Bíblia ensina que Deus colocou toda a humanidade numa disposição negativa em relação à salvação, ou seja, nenhum homem pode se salvar e todos estão afastados de Deus. É importante lembrar que a posição do homem natural em relação a Deus é de morte espiritual. Ele não pode e também não deseja crer em Deus para ser salvo.

Talvez por não compreender o que o pecado original fez com o homem essa dúvida seja tão constante. Quando o homem caiu em pecado, no Éden, Deus afastou de Si mesmo toda a humanidade. As consequências do pecado em Adão e Eva são passadas a todos os homens, por isso  Paulo diz que "todos pecaram e estão destituídos da Glória de Deus" (Rm 3.23), de igual modo o mesmo apóstolo afirma que "todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer" (Rm 3:12) e que "a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam" (Gl 5:17).
Com isso Paulo está mostrando a disposição natural do homem em relação a Deus. Ele está definitivamente distante de Deus e não pode (e também não quer) se aproximar dEle para ser salvo, em outras palavras "estão mortos em seus pecados" (Ef 2 paráfrase minha). Então por que Deus condena o homem? Ele condena o homem porque os homens são naturalmente contrários a Ele, desejando mais a desobediência do que a obediência. Todos os homens foram encerrados dessa forma após a queda, vinda do pecado original. Nas palavras do próprio Deus:
"o seu coração [do homem] é inteiramente inclinado para o mal desde a infância" (Gn 8:21).
Quanto a salvação do homem, Jesus deixou claro ser impossível para ele, sem a ação do próprio Deus, veja:

"Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más" (Jo 3:19) e ainda quando questionado pelos discípulos a respeito da salvação: "Jesus olhou para eles e respondeu: "Para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis" (Mt 19:26).

Então, nós concordamos com as Escrituras quando ensina que todos os homens estão condenados por causa dos seus pecados. E Deus é completamente justo por condenar a humanidade uma vez que todos os homens "se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis" (Rm 3.12).
A segunda parte da pergunta pode ser explicada usando o texto de Romanos 9, que foi, negada pelo membro do canal, vejamos:

B - "como Deus vai condenar pessoas que Ele mesmo não quis conceder fé? (Já que no calvinismo é o próprio Deus que concede a fé)"
Antes de começar é importante lembrar que não foi Calvino, nem o calvinismo que criou essa ideia. Ela está expressa em toda a escritura. Tenha em mente, por exemplo, que não foi Abrão quem procurou Deus, mas Deus chamou Abrão. O mesmo acontece com Moisés, Davi e os profetas, apóstolos e os crentes em Jesus. Então precisamos deixar o preconceito quanto às doutrinas bíblicas de lado e aceitar aquilo que Deus revelou a nós.

Lembre-se de que Paulo expôs no capítulo 8 as doutrinas da eleição incondicional e a perseverança dos santos, em outras palavras, ele ensinou sobre o decreto da eleição e a certeza da salvação em Cristo Jesus - isso está explícito no capítulo 8. Agora, no capítulo 9 ele expressa de forma dramática a seguinte questão: Muitos judeus não creram em Jesus, e isso deixava claro que tais judeus não eram eleitos à salvação, mas Jesus não veio para o povo judeu? - com isso ele traz uma impossibilidade desde os primeiros versos, podemos parafrasear da seguinte maneira: "se eu pudesse, se isso fosse realmente possível, entregaria minha salvação e aceitaria a condenação eterna se, com isso o meus irmãos, judeus, fossem salvos do inferno e da morte" (Rm 9.1-3). Então surge uma segunda questão importante: Será que Jesus falhou ao comunicar o evangelho ao povo judeu ou que a pregação dos apóstolos falharam também? Ao que responde imediatamente:

"Não pensemos que a palavra de Deus falhou. Pois nem todos os descendentes de Israel são Israel" (Rm 9:6).
Paulo nos dá uma resposta dupla. A primeira questão é: o evangelho não falhou, ele cumpriu exatamente o que Deus quis cumprir por ele. A segunda questão é que nem todos os judeus estavam destinados à vida eterna, ou eram eleitos à salvação. Por isso ele usa o nome “Israel” associado aos que creem. Para Paulo, neste texto, o povo de Israel é formado pelo povo eleito de Deus - formado por todo aquele que crê em Jesus, concluindo com a seguinte afirmação:

"Noutras palavras, não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão" (Rm 9:8). Quando ele diz "filhos naturais" está se referindo ao homem que nasce dentro do território de Israel; ele está dizendo que nascer lá dentro não significa nada. Apenas os eleitos são salvos por Deus.
A resposta mais curta a respeito de o por que Deus salva apenas alguns e não a todos - e Ele faz isso dando fé a alguns e não a todos, é a seguinte: Deus salva alguns e não a todos porque ele não quer salvar a todos. O desejo de Deus é esse.

O ser humano tem por natureza um senso de grandeza herdado da queda no Éden, isso foi despertado por satanás quando disse: "seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus" (Gn 3:5). Por isso a tendência natural do homem é colocar Deus contra a parede o obrigá-lo a dar satisfações pelo que faz ou fez e assim tentar mudar a sua própria vontade. O homem desde a queda quer ter os mesmos direitos de Deus (hoje é levantado por muitas igrejas o deus homem, aquele que também tem livre arbítrio), por isso o homem natural não aceita que será condenado por desejar o pecado, por viver de forma contrária a Deus e tenta a todo custo se igualar ao Criador e obrigá-lo a aceitar tudo que o homem é em sua essência, isso é idolatria e blasfêmia contra o Criador. Por isso Paulo, sabiamente inclui no texto a seguinte frase:

"E então, que diremos? Acaso Deus é injusto? De maneira nenhuma! Pois ele diz a Moisés: "Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão". Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus" (Rm 9:14-16).
Essa resposta faz com que o nós aceitemos nossa posição passiva diante de Deus e ainda ensina que Deus quis salvar alguns, aplicando sua misericórdia sobre esses e não sobre todos. O pensamento contrário, o que Paulo também combate no início do texto: "Acaso Deus é injusto?" - precisa ser evitado por todos os cristãos, pois representa muito bem a mesma estratégia usada por satanás no Éden e também contra Jesus no deserto, ou seja, satanás continua tentando nos enganar usando a mesma estratégia e tem, infelizmente, dado muito certo.

Voltamos então ao questionamento do membro do canal: "como Deus vai condenar pessoas que Ele mesmo não quis conceder fé?"
Deus vai julgar estas pessoas de acordo com seus próprios pecados. Estes desejaram viver contrário à vontade de Deus e por isso são culpados; Deus por sua vez não quis aplicar sua graça salvífica a Eles (porque Deus tem o direito de optar ou não fazer isso) e assim eles herdam o salário do pecado, ou seja, a condenação eterna. Esse ensino foi extraído do calvinismo? Óbvio que não, uma vez que não citei nenhum texto além das escrituras, a doutrina é totalmente bíblica.

Isso não deve fazer com que abandonemos aqueles que não creem, muito pelo contrário. Jesus orientou que amássemos uns aos outros e também aos nossos inimigos, isso inclui as pessoas mundanas que estão à nossa volta. Precisamos pregar a palavra, a tempo e fora de tempo, pois isso foi ordenado a nós que fomos alcançados pela graça de Deus - quanto àqueles que não serão salvos, não cabe a nós outra decisão senão: pregar o evangelho. O que passar disso será julgado por Deus.

Devair S. Eduardo
Palavras em Chamas
 
 

Comentários

  1. Obrigado pela reflexão Irmão Devair. Que Deus continue te enchendo de graça e conhecimento.

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  2. Penso muito em João 4.23 o pai assim os procura.
    Penso entender a Deus não é complicado como nos humanos fazemos.
    O problema e adorar a Deus em espírito e em verdade.
    O homem Natural quer adorar a carne e seus desejos o afastam da verdadeira adoração.
    A verdade,viver em verdade

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  3. O maior motivo de glorificação que tenho tido nos últimos anos se dá ao fato de saber que não tenho nada de especial, minha fé é minúscula, como a de tantas pessoas que me cercam, e, ainda assim, Deus em sua infinita bondade tem me amado. Bem sei que o justo seria minha condenação, pq não há mérito nenhum nas minhas obras ou no que represento, porém, ainda assim, Cristo tem me amado.

    1. Ele vos concedeu a vida, estando vós mortos nas vossas transgressões e pecados,
    2. nos quais andastes no passado, conforme o curso deste sistema mundial, de acordo com o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência.
    3. Anteriormente, todos nós também caminhávamos entre eles, buscando satisfazer as vontades da carne, seguindo os seus desejos e pensamentos; e éramos por natureza destinados à ira.
    4. No entanto, Deus, que é rico em misericórdia, por meio do grande amor com que nos amou,
    5. deu-nos vida com Cristo, estando nós ainda mortos em nossos pecados, portanto: pela graça sois salvos!
    (Efésios, 2)

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