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Livres para sermos servos

Algumas palavras sobre o Livre-arbítrio


Esta semana eu acabei lendo um comentário de uma pessoa que afirmava não aguentar mais depender dos pais, era uma adolescente conversando com o namorado. O comentário soou um tanto feminista e independente, mas expressa bem o que muitas pessoas estão pensando hoje. Elas ainda dependem umas das outras e todos nós dependemos de Deus, querendo ou não essa é a verdade.

Porém é uma pequena mentira afirmar odiar depender de alguém, no fundo nós adoramos depender de alguém. A mensagem do livre arbítrio por si só soa como uma mentira, algo que as pessoas possam até desejar, mas intimamente repudiar pois, todos nós desejamos depender de outras pessoas. Isso traz segurança, conforto e a impressão de sermos queridos. Se realmente tivéssemos livre arbítrio não haveria necessidade alguma de termos qualquer tipo de relacionamento porque no fundo nós queremos ser amados e reconhecidos, queremos também amar, elogiar e manter algum tipo de contato social e isso nos torna servos uns dos outros.

Fato é que as pessoas podem não gostar de depender de quem depende, de dar satisfações a quem tem dado, mas se elas realmente desejassem ser livres conseguiriam isso.
A moça no ônibus dizia não aguentar mais depender dos pais enquanto conversava com o namorado, pessoa que em breve terá toda a atenção, satisfação e confiança dela. Ou seja, a pessoa a quem ela será dependente em breve.
Quando olhamos para o meio acadêmico cristão nos deparamos com a mesma questão, algumas pessoas ensinam e desejam ser completamente livres para escolher o bem e o mal e não se sentem mal por isso, pois “sabem” que possuem livre arbítrio, mas não pensam em como isso é estranhamente uma mentira e algo indesejado até mesmo na Palavra de Deus. Nenhum personagem da Bíblia desejou ter livre arbítrio (dizem que satanás tentou é perdeu tudo que tinha). Todos eles estão aos pés do Senhor, desejando ser orientados, ensinados e guardados. Como alguém que deseja ser completamente livre pode esperar de outro Ser algo assim? Não é ele mesmo dono do seu próprio nariz? Mas em nossas orações desejamos ser perdoados, amados, alcançados e direcionados, coisas que se aplicam a servos e não a pessoas completamente livres… somos mais escravos do que pensamos e gostamos de ser. Aquele que não foi chamado ao evangelho não tem o que reclamar da sua escravidão ao pecado, ele ama ser parte desse reino, aqueles que foram chamados pelo Espírito experimentam uma liberdade completamente presa ao seu Senhor. Um livre arbítrio deveria estar entre essas duas ideias, nem o caminho do mal nem o caminho do bem, um caminho próprio. Mas, este caminho não existe. Veja como o salmista demonstra isso:

Somos socialmente dependentes

Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. (Salmos 1:1,2)

A bem aventurança do Salmo 1 aponta para alguém que depende também de uma vida social justa e íntegra (bem diferente da nossa). Tais pessoas devem odiar os conselhos dos ímpios, ou dos perversos e merecedores de punição como bem define o dicionário Strong em 7563. Aqueles que não se deixam influenciar pelos “contados como ofensores” como Strong define em 2400. Este princípio é uma aplicação da nossa vontade, precisamos desejar estar com pessoas justas, bondosas e compassivas, são aqueles que amam a palavra de Deus. É em relacionamentos assim que devemos nos espelhar, depender e buscar conhecimento.

Isso não nos torna superiores, mas abençoados pelo próprio Deus, mas para isso ser possível precisamos estar inseridos numa comunidade, o texto não aponta para alguém que está sozinho, mas alguém que vive com outras pessoas e se ele (indivíduo) atende aos conselhos dos ímpios ou se detém no caminho dos pecadores certamente tem sua liberdade condicionada ao meio em que vive.

Gosto muito do comentário da Bíblia de estudos Genebra quando diz: 
1.1 Bem-aventurado. Um termo mais forte do que feliz, embora, muitas vezes inclua felicidade. Aquele que é bem-aventurado é o objeto do favor e da graça especiais de Deus”.

Claro que no verso 1 o ponto definitivo não é o meio social, mas os desejos daqueles que estão inseridos nele. O autor diz que o indivíduo alvo da graça de Deus tem seu prazer na lei do Senhor e medita nela dia e noite, se escolhemos um meio social assim, quais as chances de não sermos felizes? O autor está afirmando que seremos muito mais do que felizes.

Se uma comunidade, por menor que seja se tornar algo parecido com o primeiro verso do Salmo 1 certamente desejaremos ser dependentes dela, é nela que vamos buscar as respostas e tirar nossas dúvidas e isso nos faz servos dela mesma; uma vez que fazendo parte nos tornamos dependentes uns dos outros e isso tudo nos torna também e primeiramente dependentes da Palavra de Deus. Isso mostra que nem mesmo socialmente somos livres. O contrário desse modelo de comunidade fará com que seus membros sejam escravos do pecado pregado pelo meio em que vivem.

O desejo de estar preso a Deus

O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranqüilas. (Salmos 23:1,2). Do Senhor é a terra e a sua plenitude; o mundo e aqueles que nele habitam. (Salmos 24:1)

Spurgeon comenta: “o pastor oriental era o guia de seu rebanho. As ovelhas iam adiante dele – seria uma anomalia na natureza as ovelhas irem a frente e o pastor as seguir. Elas não tinham necessidade de conhecer o caminho através do deserto sem trilhas – era suficiente que o pastor o soubesse. Não precisavam saber onde havia pastagens verdes durante as secas do verão ou onde havia lugares de repouso silencioso onde poderiam deitar-se ao meio dia. Era-lhes suficiente que o pastor o soubesse – tudo que precisavam fazer era, pacientemente, seguir para onde ele as conduzia”.

O salmista neste primeiro verso do capítulo 23 define toda sua vida como uma ovelha guiada por um pastor, este parâmetro define de quem ele é servo, ou aquele que detém a sua liberdade. Ele não está sofrendo por isso, antes demostra estar bem, é algo desejável ser ovelha do Senhor! Isso mostra que aqueles que conhecem o parâmetro da Palavra de Deus não querem ser livres, eles preferem ser servos, agarrados ao pastor e direcionados pela escolha do mesmo. A ovelha que toma outro rumo ou faz suas próprias escolhas não está livre, está perdida porque as demais estão indo atrás do seu Pastor.

Os resultados da dependência da ovelha são bem parecidas com o que o Salmo 1 ensina, uma vida de benção, financeira? Talvez, mas eu diria que uma ovelha não se preocuparia tanto com essa questão, ele é bem tratado pelo seu pastor ou Senhor. A questão aqui é a segurança, independente da condição financeira. Sobre essa importante questão Matthew Henry ensina que:

23.1 nada me faltará: Há mais aqui implicado do que está expresso, pois não apenas nada me faltará, mas também “serei suprido com tudo que precisar e, se não tiver tudo que desejo, devo concluir que essas coisas não me são apropriadas, não me são benéficas ou que as terei no tempo certo”.

Neste sentido o autor está demonstrando depender unicamente de Deus e é esse o verdadeiro motivo da sua alegria.
O verso 24 aponta para uma realidade ainda mais difícil para aqueles que defendem uma vida de liberdade, poucas pessoas ousaram comentar este verso em sua totalidade, uma dessas pessoas foi Spurgeon. A resposta vai muito além e afirma que além de estarmos ligados a um senhor, nós, todos nós pertencemos àquele que criou todas as coisas, ou seja, o ímpio por mais livre que seja pertence a Deus também, ainda que servo do pecado.

“Que repreensão é este versículo para os sabichões que falam de membros de outras raças como se não fossem cuidados pelo Deus dos céus! Se o homem sendo somente homem, o Senhor o reivindica quem ousa categorizá-lo como mera mercadoria? O pior dos homens é habitante do mundo. Portanto, pertence ao Senhor”. (Spurgeon).
Obviamente o texto não está tratando de salvação e sim do fato de todos pertencerem a Deus, tornando-os tão pertencentes ao criador de todas as coisas. Servos de Deus ou do pecado, todos pertencem a Deus e essa verdade pode ser até mesmo assustadora, mas não deixa de ser real. Deus tem aqueles que salva e aqueles a quem não salvará são dele, porém experimentarão, por não seguirem o parâmetro da salvação, a distância de Deus; que possui a terra e todos que nela há. Obviamente Spurgeon não estava errado ao dizer que Deus cuida dos justos e injustos, uma vez que toda a terra pertence a Ele quando o ímpio colhe algo bom ele está sendo cuidado pelo dono da terra. Isso mostra que o servo de Deus tem prazer em ser servo, ele não reclama a sua liberdade antes canta sobre a sua servidão “O Senhor é o meu pastor e eu estou bem!”

Ninguém é totalmente livre na liberdade de Jesus

Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. (João 8:31,32)

Lendo rapidamente podemos concluir que se Cristo nos libertou estamos livres para qualquer coisa, isto é uma distorção de outro texto bíblico, Ele não nos liberta para dar autoridade ao nosso desejo de pecar, ele nos torna livres para não sermos escravos dele (o pecado). Porém, esta liberdade nos faz servos, ou escravos. No verso 31 acima Jesus define o ponto onde nos tornamos dependentes, ele diz “Se vós permanecerdes na minha palavra” e isso faz com que sejamos servos dele para sempre, pois, o contrário disso seria “Se vos desviardes das minhas palavras sereis discípulos do pecado”. Deus determina desde o início o meio pelo qual seremos livres a partir das regras que nos faz servos. Logo, desejar ser completamente livre revela o desejo interno de não respeitar, seguir e obedecer às suas palavras.

Esse é o parâmetro que nos torna escravos, mas livres! E é possível afirmar que dentro dos parâmetros estabelecidos por Deus temos a liberdade para viver e escolher aquilo que Ele nos permite fazer e escolher. Eu chamo isso de arbítrio condicionado, quando nossas escolhas estão em conformidade com aquele que nos guia, com nosso bom pastor. O contrário a isso seria um arbítrio livre de qualquer parâmetro, o que obviamente não existe, uma vez que Jesus define apenas dois caminhos, o bem ou o mal.

Por isso vemos pessoas afirmando que não gostam de depender de outras, porque estas outras pessoas possuem também algum parâmetro pelo qual mantém todas as coisas funcionando ou sob controle e isso, para quem não sabe o que é ser servo, a faz desejar ser 100% livre, ainda que esta liberdade a torne escrava das próprias consequências, mas um cristão não deveria de forma alguma desejar ser completamente livre.

Além disso a liberdade que nos faz servos faz isso por nos ensinar o caminho certo, a verdade. Por isso é bom ser servo e dependente de Deus, pois Ele nos faz enxergar a verdade e a mentira, o bem e o mal. Quando Salomão escreveu o Provérbio 8 estava pensando nos benefícios dessa tal liberdade, que escraviza da melhor forma possível, ensinando para onde vão todos os caminhos. Lemos:
“6- Ouçam, pois tenho coisas importantes a lhes dizer. Tudo que digo é correto, 7- pois falo a verdade, e toda espécie de engano é detestável para mim. 8- Meu conselho é justo; não há nada nele que distorça a verdade ou dela se desvie. 9- Minhas palavras são claras para os que têm entendimento e corretas para os que têm conhecimento”

Se o homem por si só caminha para o mal, a sabedoria lhe mostra a verdade, se ele não dá ouvido a ela se torna servo do pecado e seu caminho novamente pende ao mal, mas o que a sabedoria diz é “Ouçam”. Ouvindo saberemos e com o conhecimento vem a responsabilidade, que nos prende e graças a Deus nos torna servos dEle, temos a alegria em afirmar que:
“O Senhor é o nosso dono e por isso estamos bem!”

portanto, não é ruim sermos servos ou não termos livre-arbítrio. Bem ao contrário, esta é a forma que Deus escolheu para nos fazer andar nos seus caminhos e se Ele se preocupou tanto conosco a ponto de nos tirar o meio pelo qual nos afastamos dele então seu amor é muito maior do que o nosso. Sejamos servos, escravos ou ovelhas, mas que tudo isso sejamos para o Senhor, amém!


Devair S. Eduardo

Bibliografia: Almeida Corrigida Fiel – Ed. SBTB; King James Fiel 1611 – Ed. BvBooks; Bíblia de Estudos de Genebra – Ed. Cultura Cristã; Bíblia de Estudos e Sermões – Ed. Pão Diário; Bíblia de Estudo Matthew Henry – Ed. SBB; NVT – Ed. Tyndale House Publishers, Inc;

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