Crônicas de Zephira 2 - #0

ZERO

O dia tinha sido longo e cansativo. Diana voltara da escola e seus pais logo a puseram para organizar toda a casa numa sexta-feira de muito sol, de meio dia às cinco da tarde tudo que passaram nas mãos da menina foram pano de chão, produtos de limpeza e todo o lixo recolhido pela casa. Às seis e meia ela estava sozinha, seus pais haviam saído para passar o fim de semana em uma cidade vizinha em comemoração ao aniversário de casamento que seria no sábado. Após guardar todos os produtos, vassoura e demais coisas a moça cansada tomou um banho quente e foi se deitar.

Naquela época não havia muita coisa com que perder tempo então era mais óbvio dormir do que assistir a novelas naquelas pequenas telas em preto e branco muito comum nos anos de 1990, então após alguns instantes Diana estava dormindo, um sono tão pesado que se um gigante retirasse o teto de sua casa ela não acordaria. Um ventilador rosa estralava para a direita e depois para a esquerda e nesse movimento Diana começou a ter sonhar. Estava em algum lugar no litoral, nunca esteve num lugar assim antes e essa não seria a última vez que veria aquele cenário em um sonho. O sol brilhava laranja no horizonte, haviam poucas pessoas tomando banho no mar e a moça caminhava sem perceber enquanto observava a estranha paisagem à sua esquerda.

Após alguns minutos caminhando ela subitamente entrou numa rua à direita, entrando em uma avenida pouco movimentada apesar de grande e com prédios de ambos os lados. Era uma avenida comum, prédios grandes e residenciais e poucas pessoas na rua, fato que estranhava cada vez mais a moça. O certo é que Diana acompanhava tudo com bastante lucidez, porém não conseguia interferir em nada, apenas observava tudo em silêncio. Entrou na portaria de um dos prédios, talvez o maior deles e caminhou em direção a um dos elevadores observando o quão luxuoso era aquele lugar, poucas coisas sobre ele ficaram em sua memória, mas ela tinha certeza de que envolvia lugares espelhados, pisos de mármore e peças douradas. O elevador era espaçoso com um estilo futurista nunca visto naquela época. Ela entrou, olhou para o painel de controle e selecionou o andar mil. Estranhamente não haviam tantos botões como era de se esperar, mesmo assim a moça conseguiu apertar o botão referente ao andar mil e o elevador começou com um silencio absurdo subir mil andares numa velocidade extrema.

De repente algo começou a tomar conta do espaço no elevador, uma espécie de neblina fria e branca e uma sensação de pressão intensa foi se formando em todo o lugar e como que um piscar de olhos Diana estava aflita subindo escadas, entrando e saindo de salas e corredores apertados fugindo enquanto algo ou alguém se aproximava, não podia ver o que era e não tinha tempo, tamanho medo que sentira ao olhar para trás e apenas imaginar estar sendo seguida. Subiu alguns andares e estranhou que alguns corredores eram apertados demais e curtos demais para a extensão do prédio onde entrara a pouco e em fim ela chegou a uma porta estranha no final do corredor. Estava fechada e de alguma forma sentia medo de entrar, porém entre esperar e arriscar entrar ela por fim tomou coragem e entrou.

Era uma sala estranhamente branca, com móveis rústicos. Era como ter entrado em outra era, não apenas em outro lugar. Uma mesa de madeira branca com documentos e uma luminária incrivelmente brilhante e uma cadeira também em madeira branca com o encosto em alguma cor que não ficou na mente da moça preenchia a sala. Diana correu para um dos cantos da sala, abaixou-se como que aguardando ser descoberta e o que viria depois, fechou os olhos e a neblina cobriu ela por inteira, novamente estava no elevador subindo para o andar mil. Agora acompanhada de outras duas pessoas, a subida continuou silenciosa e velozmente até o andar certo.

A porta do elevador se abriu e Diana deu o primeiro passo em direção a uma espécie de jardim. Um jardim no milésimo andar de um prédio, não. Um imenso jardim no milésimo andar do prédio, de forma que Diana caminhou durante alguns minutos observando o gramado que cobria toda a cobertura, haviam diversas árvores e Diana podia jurar ter visto alguns pássaros vermelhos brincando entre elas, um caminho que circulava todo o jardim enfeitado com postes brancos e rústicos levou Diana até o fim, notou que haviam outras pessoas, a movimentação era de subida e descida e as pessoas não se estranhavam e quando chegou ao fim da cobertura não havia nada, apenas o final do jardim e o abismo abaixo dos seus pés. Não havia parapeito ou qualquer suporte, apenas o final do gramado verde e vivo como se estivesse no chão onde ela sentou com os pés balançando enquanto observava a praia, as pessoas e o pôr do sol acontecer lá embaixo.


Crônicas de Zephira – 1997

Curiosidades: O prédio de mil andares e os locais de subida fazem parte de alguns sonhos que sempre tenho, a praia também é um lugar muito visitado enquanto durmo! O sonho mais bacana no prédio foi o que eu subia com minha filha Emanuele! Nunca esquecerei.



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