Crônicas de Zephira #1
UM
Um forte barulho de água caindo do chuveiro fez com que
Diana despertasse de um terrível sono, sua cabeça estava para explodir e ela fora
forçada a abrir os olhos para entender onde estava e o que havia acontecido. Do
lado de fora a noite ia consumindo o resto do dia, os postes já iluminavam
sozinhos as ruas e suas poças espalhadas por todo canto da rua esburacada, um
tom laranja que lembrava mais uma fotografia sépia mal configurada relembrando cada
vez o cenário apocalítico a qual a humanidade se aproximava. Naquele mesmo ano
uma lei entrava no congresso da região UM para votação sobre a mudança completa
de fuso horário, onde as pessoas trabalhariam na parte da noite e descansariam
a parte do dia, devido ao aquecimento acelerado do aquecimento global. Pessoas morriam
cada vez mais jovens de câncer de pele e outras doenças.
Diana abriu um dos olhos enquanto apertava o outro com força
devido à dor de cabeça, era como se alguma coisa estivesse apertando cada vez
mais ela contra a madeira do sofá envelhecido de cor marrom enquanto fazia
força para se levantar. A moça enfim sentou no sofá ainda notando o estranho
som do chuveiro desperdiçando o pouco de água que restava de sua conta. Antes de
pensar em ir em direção do banheiro foi tomada de uma estranha sensação que a
fez subitamente fixar os olhos em direção à janela que dava para a avenida
principal.
Ao virar-se Diana deparou-se com uma mulher sentada na
janela. Não era como se ela realmente estivesse lá, era como se ela estivesse
sonhando por um momento ao mesmo tempo em que o barulho no banheiro revelava
que aquilo não poderia ser apenas um sonho, talvez uma visão. A mulher esguia
estava presente, não importava se era um sonho, visão ou, seja lá o que fosse,
era real e sua presença tragava a atenção de Diana em cada detalhe. Seu vestido
colado vermelho, suas unhas muito bem finalizadas no mesmo tom, o cabelo negro
estranhamente escorrido até a altura dos seios e um batom que parecia estar líquido,
em tom de sangue que fez com que ela sentisse o sabor em sua própria boca.
- O que… quem é você, como me trouxe até aqui? – Perguntou a
moça se levantando em direção à outra mulher que permanecia intacta na janela,
agora esboçando algo como que um sorriso. Diana apoiou uma das mãos no braço do
sofá enquanto ajeitava seu cabelo que escorria por cima dos olhos, lembrando a incrível
coincidência do tom vermelho usado pela mulher imóvel do outro lado da sala,
enquanto isso o barulho no chuveiro continuava. Um ou dois passos em direção a
ela e já não fazia mais ideia de onde estava, olhava tão fixamente para a
mulher de vermelho que esquecera até mesmo a incrível dor de cabeça e o
acontecimento anterior a este. A estranha mulher ergueu o queixo fazendo com
que a luz alaranjada do poste pousasse sobre seus olhos revelando mais detalhes
de seu fino rosto, liso como cerâmica. Seu olhar igualmente avermelhado fez com
que a moça ficasse imóvel por um segundo a menos de um passo.
- Quem é você? Que sensação é essa? – Estava agora voltando
aos seus sentidos. Por conta disso o rosto da mulher voltou-se para baixo,
agora exibindo um olhar mortal revelando um estranho ódio enquanto cerrava as
mãos como que preparando alguma coisa. Diana afastou um pouco e tomou coragem
para tocar ela tamanha curiosidade e quando o fez o rosto da mulher tornou-se
como o de um demônio, com traços de luta e uma expressão impressionantemente
marcada pelo ódio, seus olhos tonaram-se azuis como o céu claro e estavam
cerrados planejando algo que ela descobriria mais tarde.
- Afaste-se de mim escrava maldita! – Disse, agora com um
leve sorriso no rosto. Neste instante e ainda não entendendo o que acontecia
naquela sala Diana notou que o barulho do chuveiro havia parado, virou-se por
um instante para o banheiro e quando voltou sua atenção uma estranha e espessa
neblina negra a abraçava, havia algo no meio dela, era como se através dela
pudesse ver o outro lado de algum lugar, era obscuro e frio e a envolveu
rapidamente até formar uma espécie de bolha enquanto a estranha voz da mulher
ressoava em seus ouvidos.
- Você não pode dar conta sozinha, escrava maldita, eu te
odeio desde já! Fracassada, desiste logo e eu destruo você um pouco mais rápido
do que farei dentre algum tempo… escrava maldita, eu te odeio… odeio você e
todos aqueles doze malditos que insistem em me importunar… - Diana caiu apoiada
em um dos joelhos, lógico, sem saber nada do que estava acontecendo, mas pode
notar que alguma coisa de muito estranho estaria perto de acontecer, foi como
se aqueles estranhos sonhos e visões que tinha quando criança estivessem mais
vivos hoje, especialmente hoje… mas, por quê?
- Olá! – disse uma voz vinda do banheiro, completamente
molhada, ainda de roupas, farrapos na verdade. Com os cabelos grudados no rosto
enquanto lutava para descolar toda a roupa presa no corpo por causa da água.
In love!!! Está ficando cada vez melhor. Parabenssss!!!
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