O calvinismo não defende o livre arbítrio. Verdade ou mentira?

O calvinismo não defende o livre arbítrio. Verdade ou mentira?

É muito comum ouvir arminianos e católicos dizerem que o calvinismo defende a inexistência do livre arbítrio e, entre um vídeo e outro, ou livro, é comum encontrar diversas mentiras destes grupos a fim de bloquear sua mente para o que realmente ensinamos. Aliás, é preciso dizer que arminianos e católicos, em geral, mentem muito sobre a doutrina reformada a fim de afastar irmãos piedosos daquilo que claramente é ensinado e facilmente compreendido desde a Reforma Protestante.

A verdade é que o livre arbítrio humano é tão relevante para a doutrina calvinista que a própria Confissão de Fé de Westminster a defende. Veja:

“Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas.” (CFW 3.1)

“Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade, que ele nem é forçado para o bem ou para o mal, nem a isso é determinado por qualquer necessidade absoluta da sua natureza.” (CFW 9.1)

Veja que, no primeiro exemplo, a CFW é clara ao dizer que não "é violentada a vontade da criatura, nem tirada a contingência". Ou seja, Deus, em seu eterno decreto, considerou a liberdade do homem e de forma alguma viola essa vontade. No segundo exemplo, a confissão expressa claramente que Deus dotou o primeiro casal com liberdade para escolher o bem ou o mal! Então, onde está a negação do livre arbítrio no calvinismo? Veja que citei apenas dois exemplos e vamos conversar mais sobre o tema usando a CFW.

Acontece que o calvinismo não defende o livre arbítrio ensinado pelo catolicismo e posteriormente pelo arminianismo, pois são tidos como deuses destas linhas filosóficas. A doutrina do livre arbítrio no arminianismo é fortemente influenciada pelo semipelagianismo adotado pelo movimento católico romano, e ele vai contra as Escrituras Sagradas. Por isso, o calvinismo a nega. Existem pelo menos 3 formas de compreender a doutrina do livre arbítrio na filosofia da religião:

1 – A doutrina do livre arbítrio: Esta é a visão básica da doutrina. Ensina-se que Deus permite que o ser humano faça planos e tome decisões. Porém, se um desses planos não for aprovado por Deus, Ele mesmo os impede de concluir. Neste caso, eu posso planejar um texto para o meu blog, posso escrevê-lo, mas se Deus for totalmente contra ele e decidir que ninguém o lerá, jamais publicarei em algum lugar. A Bíblia ensina essa doutrina em vários lugares, e o texto principal está em Pv 16.1, onde lemos que o homem pode até traçar planos, mas o resultado final deles depende de Deus. Essa visão da doutrina considera que a vontade do homem, após a queda, foi contaminada pelo pecado e, por isso, o homem não pode escolher o bem sem que Deus opere isso em seu coração. Por estarmos contaminados pelo pecado, não podemos escolher livremente nos salvar, como as outras visões afirmarão. Sendo assim, o homem é salvo pela operação do Espírito Santo.

Textos como Efésios 2 (todo o capítulo) e Romanos 3 reafirmam esta doutrina. Sendo assim, a doutrina do livre arbítrio protestante é originalmente que o homem recebe de Deus liberdade para agir, mas devido à contaminação pelo pecado, este é limitado a escolher pecar contra Deus. Veja, por exemplo, como Paulo chama o homem natural em Efésios 2.2,3, e em Romanos 6.20,21, Paulo chama o ímpio de escravo do pecado que receberá ao final desta vida a morte, mas aqueles que são libertos por Jesus (v. 22) receberão a vida eterna.

Isso quer dizer que Deus sabe das nossas escolhas e as viu de antemão. Alguns dos nossos planos são impedidos por sua soberania e outros permitidos, mas não podemos escolher por conta própria a sua salvação, pois estamos naturalmente afastados da sua gloriosa graça.

2 – O livre arbítrio arminiano/católico romano: Esta visão é comumente chamada de semipelagianismo, ainda que muitos arminianos não aprovem este nome. O semipelagianismo é uma tentativa de resolver a controvérsia pelagiana no século V. Pelágio defendia que o homem tem capacidade e liberdade para escolher o bem ou o mal, Deus ou o diabo, sem que haja antes uma ação do Espírito Santo para que ele escolha o bem. Essa doutrina talvez fosse uma evolução de religiões gnósticas que enfatizavam a escolha humana em relação à luz ou às trevas e acabou contaminando primeiro o movimento católico romano e, posteriormente, o protestantismo.

Semipelagianos defendem que Deus opera a sua graça, mas que o resultado final da salvação do homem depende do livre arbítrio. Ou seja, Deus quer salvar alguém, mas é impedido de fazê-lo devido à dureza do coração e à escolha livre pelo inferno em vez do céu. É comum ouvir destas pessoas que o ser humano não está completamente caído em pecado, indo diretamente contra a Bíblia em diversos textos (cf. Is 43.11-13; Ef 2.1).

Então, veja bem. Este tipo de livre arbítrio que o calvinismo não pode defender e ensinar, pois antes de definir uma doutrina assim, nós precisamos definir a base principal para ela. Se considerarmos a Bíblia como única regra de fé e prática, não apoiaremos uma doutrina que vá contra um ensino tão claro nas Escrituras.

3 – Livre arbítrio libertário: Esta visão do livre arbítrio pode ser facilmente entendida como uma atualização do que é ensinado por muitos arminianos, embora não seja oficial. Nela, o homem é totalmente livre, e Deus não pode determinar o que vão fazer ou pensar. O livre arbítrio libertário está crescendo muito nos Estados Unidos e certamente, em breve, chegará no Brasil através de “pastores” arminianos. Veja que é totalmente contrário às Escrituras um tipo de livre arbítrio que não é direcionado pela vontade de Deus, ou uma tal liberdade que anula a própria consciência caída em pecado e capacita o homem a ser salvo por sua própria vontade. Fico me perguntando como Deus se sente vendo que as pessoas estão tentando derrubar sua soberania; Ele certamente não ficará parado.

Este tipo de filosofia está de mãos dadas com o arminianismo em pelo menos um argumento. Segundo eles, o livre arbítrio que ensinamos anula a responsabilidade do homem, e é bastante contraditório, isso porque, se o meu livre arbítrio é libertário, eu deveria mesmo fazer o que quiser sem me preocupar com as consequências; afinal de contas, ninguém pode me controlar. Mas os defensores dessas ideias mentem sobre o calvinismo; nós ensinamos a responsabilidade humana sim. Aliás, ninguém vai pro inferno por ter tropeçado no lago de fogo, mas por ter passado a vida inteira contra a vontade de Deus. Veja que nossas escolhas têm consequências nesta vida, e se não formos salvos pela graça, na eternidade também.

O livre arbítrio libertário não consegue apoio da lógica humana e da simples vida em sociedade. Nós, humanos, somos controlados pela vontade de Deus, que nos permite ou não realizar esta ou aquela obra, mas também pelas leis de nossos municípios e país. Eu tenho, por exemplo, liberdade para adulterar a hora que quiser; porém, a minha consciência, dominada pela vontade de Deus, não permite que eu busque isso. Além disso, há leis que protegem esposas e até mesmo amantes contra este tipo de atitude. Logo, eu não tenho livre arbítrio libertário, pois sou controlado, primeiramente, pela vontade de Deus agindo em meu coração e depois pelas leis do nosso país. Portanto, o livre arbítrio que prega uma total liberdade é ilógico e antibíblico.

Concluindo, meu maior desejo com este texto não é que você se converta ao calvinismo! Embora fique muito feliz em encontrar irmãos compartilhando nosso pensamento. O que eu desejo de verdade é que você perceba que arminianos e católicos estão mentindo para você sobre o que ensinamos acerca do livre arbítrio. Se fazem isso com uma doutrina assim, o que mais farão para te afastar daquilo que ensinamos lendo a Bíblia Sagrada?

Fuja do engano, estude calvinismo com calvinistas e abandone as mentiras arminianas.

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