Explicar Romanos 9.21 é fácil, mas não foi isso que o Pablo Hamk fez

Explicar Romanos 9.21 é fácil, mas não foi isso que o Pablo Hamk fez

O influenciador digital Pablo Hamk (@pablohamk) usou seu perfil no Instagram para provocar, mais uma vez, teólogos monergistas e novos convertidos. Dessa vez, a ideia era refutar a concepção de que Deus opera seus decretos como quer, pregando que essa operação, em última instância, depende da decisão do homem. A velha provocação arminiana que tenta colocar o livre-arbítrio no lugar de Deus.

Segundo o autor do vídeo, Paulo estaria explicando isso ao mencionar, em Romanos 9.21, o texto do Antigo Testamento, em Jeremias 18.23. No capítulo em que Paulo dedica 33 versículos para defender a ação de Deus no povo judeu de forma soberana e imponente, o autor retirou o versículo 21 do contexto e passou a explicar Jeremias 18.23 como se todo o texto de Paulo tratasse do mesmo assunto. Vamos ver alguns erros na exposição do autor:

Ignorou o contexto: o autor ignora o contexto e a mensagem de Paulo ao chamar a atenção para o texto de Jeremias e explicar Paulo usando o texto do profeta. Aqui está um erro muito sutil, mas convincente. Enquanto Pablo explicava o texto de Jeremias 18.23, fazia aplicações como se coubessem no texto de Romanos 9.21 — esse erro é muito comum quando o expoente não pode ler muito do texto original, mas quer apoiar sua ideia usando um texto diferente. Enquanto Paulo trata da soberania de Deus sobre toda a terra, Jeremias está chamando os judeus ao arrependimento. Paulo está tratando sobre eleição incondicional e Jeremias sobre o pecado do povo judeu. Os contextos são diferentes, mas se o autor for sagaz consegue enganar os ouvintes, pois ele não explica nenhum dos textos citados, apenas o que acredita ser a verdade.

Ignorou o motivo original: Paulo citou Jeremias no versículo 21, mas também citou o faraó no versículo 17, tratando especificamente sobre quando Deus levantou o rei para demonstrar seu poder sobre toda a terra — veja: "para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder". Usou ainda o texto de Esaú e Jacó, deixando claro que as crianças não haviam feito uma única decisão e Deus já havia amado a um e odiado a outro — veja que Paulo faz uma citação polêmica: "não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal" (v.11) e "como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú" (v.13). Ele questiona o leitor fazendo uma pergunta retórica, demonstrando que Deus tem toda autoridade para salvar a quem quer — veja: "ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: por que me fizeste assim?" (v. 20). A exposição e os exemplos dados por Paulo deixam claro que a sua intenção não era explicar como o livre-arbítrio do homem impede Deus de fazer o que quer, mas como Ele age soberanamente sobre toda a criação, salvando a quem quer (mesmo que ainda não tenha nascido) e condenando quem quer de acordo com a sua vontade, uma vez que somos a "coisa formada" no texto. Dessa forma, o autor precisa ignorar a intenção original de Paulo para pregar o ídolo do livre-arbítrio, como os arminianos têm feito desde o início.

Aliás, o Pablo não teria errado tanto, se estudasse leitura e interpretação da Bíblia com o livro Texto e Contexto. Mais informações: CLIQUE AQUI

Usou uma doutrina contra a outra: O autor usou uma doutrina contra a outra, empregando a Bíblia contra ela mesma, como fazem alguns ateus. Jeremias está falando que Deus está julgando os judeus com base em seus pecados. Se o povo se arrependesse, ouvindo a pregação do profeta, é óbvio que Ele cessaria o castigo (no entanto, Ele não cessou). Mas se não se arrependessem, seriam julgados e castigados. Esse ensino está melhor situado na doutrina da depravação total, não nos decretos de Deus ou na eleição. São temas diferentes e verdadeiros ao mesmo tempo. Enquanto a doutrina da depravação total ensina que o homem está terminantemente afastado de Deus por causa de seus pecados, a doutrina da eleição ensina que Deus quis salvar alguns desses que estão perdidos e condenar o restante por seus próprios pecados. O chamado ao arrependimento e fé são genuínos e devem ser feitos a todos os povos, mas isso não quer dizer que Deus não possa escolher, por sua própria vontade, quem será ou não convertido — lembre-se, é o papel do Espírito Santo convencer o povo do seu pecado. Se Ele não fizer isso, não haverá arrependimento. Paulo ensinou o mesmo princípio em Efésios 2.1-5. É neste ponto que o autor coloca a Bíblia contra ela mesma e causa ainda mais confusão e desconforto naqueles irmãos que ainda não entendem bem a teologia reformada, pois deixa entender que o homem é livre para se auto converter sempre que puder, diferente do que Paulo ensina nos capítulos anteriores de Romanos e o que a própria Bíblia ensina em diversos outros textos. Ele cria, assim, uma espécie de controvérsia sagrada, onde Deus aparentemente não sabe o que quer fazer.

A Bíblia ensina que Deus é completamente livre para escolher o que fazer com a Sua criação. Ele pode chamar ao arrependimento, mas não permitir que o Espírito Santo liberte todas as pessoas que ouvem a pregação. Ele pode usar quem Ele quiser, o meio que quiser e fazer aquilo que determinou, sem que o ser humano possa culpá-lo disso. Se o questionamento usado pelos arminianos fosse aplicado a eles mesmos, os resultados seriam tão ruins quanto são com o calvinismo. Por exemplo, Deus chama o povo ao arrependimento e fé, mas Ele mesmo pode operar isso em todos; então, por que não opera?

Por que, em vez de ficar chamando e tentando, Deus não converte o coração do povo e salva a todos? Ele tem poder para isto? Sim. Ele quer salvar todos os homens? Bem, os arminianos dizem que sim. Então, por que não salva?

Veja, por exemplo, o Salmo 81. Bem, tenha em mente a mentira arminiana de que Deus quer salvar todo mundo. Davi escreveu que o seu povo não o quis (81.11) e que por isso Deus os entregou aos desejos "dos seus corações" — não te parece um Deus um tanto instável e mesquinho? Deus quer salvar a todos e não consegue, fica chateado e entrega o povo que Ele quer salvar ao seu próprio inferno? Esse não é o Deus da Bíblia.

A resposta que muitos arminianos dão geralmente piora a situação. Deus não pode fazer alguma coisa porque o livre-arbítrio do homem precisa ser respeitado… Se usássemos o exemplo de Paulo, diríamos que o oleiro não pode quebrar o vaso e fazer outro, uma vez que o mesmo vaso não permite que se faça isso. É ilógico dentro do exemplo de Paulo e pela lógica humana não faz nenhum sentido também. Mas como se trata de um ídolo, nunca vai fazer sentido mesmo. Está no campo da fé, da falsa fé do movimento arminiano e pelagiano, hoje e ao longo da história.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Onde estudar crítica textual com foco no Texto Recebido?

Calvinistas e gnósticos concordam sobre a doutrina da eleição incondicional?

CRÍTICA TEXTUAL EM CRISE