A doutrina calvinista concorda com o gnosticismo herético?

Mais um ataque mentiroso contra nós...

A acusação de que a doutrina da eleição incondicional seria uma influência das doutrinas gnósticas revela uma incompreensão tanto da teologia reformada quanto do gnosticismo. Para responder a essa alegação, precisamos primeiro entender o que a eleição incondicional realmente ensina, e depois considerar as características do gnosticismo para avaliar a validade dessa crítica.

A eleição incondicional é um dos cinco pontos do calvinismo, expostos no Sínodo de Dort (1618-1619), em resposta ao arminianismo. Ela ensina que Deus, antes da fundação do mundo, escolheu livremente certas pessoas para a salvação, não com base em qualquer mérito, obra ou fé prevista, mas unicamente segundo o Seu propósito soberano e misericordioso (Efésios 1:4-5, Romanos 9:11-16). Ou seja, a salvação é um ato de graça soberana, sem depender de qualquer qualidade ou escolha humana. Esse conceito está profundamente enraizado no ensino bíblico da soberania divina e da depravação total do ser humano (Efésios 2:1-5, João 6:44).


Já o gnosticismo foi um movimento herético surgido nos primeiros séculos da Igreja. Os gnósticos acreditavam que o mundo material era intrinsecamente mau e que a salvação era alcançada por meio de um conhecimento secreto (gnosis), reservado a um grupo de pessoas iluminadas. Entre suas características, o gnosticismo negava a bondade da criação material, frequentemente rejeitava a divindade plena de Cristo, e via a salvação como uma fuga do mundo material para o mundo espiritual.

Quando comparados, os conceitos de eleição incondicional e gnosticismo revelam diferenças fundamentais. O gnosticismo era elitista em seu entendimento da salvação, atribuindo-a ao conhecimento esotérico acessível a poucos, enquanto a eleição incondicional não se baseia em conhecimento ou mérito humano, mas unicamente na graça de Deus. O gnosticismo também via a criação física como má, enquanto o cristianismo histórico, e especialmente o calvinismo, afirma a bondade da criação original (Gênesis 1:31) e espera a redenção tanto do corpo quanto do mundo físico (Romanos 8:19-23).

Outro ponto de distinção crucial é que a doutrina reformada da eleição incondicional não faz distinção entre uma "elite espiritual" e os demais com base em qualquer fator intrínseco ao ser humano. Em vez disso, todos estão igualmente perdidos e merecem o juízo de Deus (Romanos 3:10-12), e a eleição é um ato de pura graça. No gnosticismo, a salvação depende do acesso ao conhecimento espiritual, enquanto no cristianismo reformado, a salvação depende única e exclusivamente da obra de Cristo e da vontade soberana de Deus.

Essa acusação de influência gnóstica provavelmente surge da confusão com relação à ideia de um grupo eleito por Deus. No entanto, a eleição bíblica não é elitista no sentido gnóstico, pois não depende do homem alcançar um conhecimento secreto, mas da revelação pública do Evangelho. A eleição incondicional, de fato, assegura que o Evangelho é proclamado a todos os povos, sem distinção, e que os eleitos serão salvos não por causa de sua superioridade, mas pela graça imerecida de Deus (2 Timóteo 1:9, Tito 3:5-7).

Por fim, a acusação de influência gnóstica ignora completamente o contexto bíblico e histórico em que a doutrina da eleição foi formulada. Ela se baseia em textos claros das Escrituras, onde Deus soberanamente escolhe Abraão, Isaac, Jacó e Israel (Deuteronômio 7:6-8; Malaquias 1:2-3; Romanos 9), e onde o apóstolo Paulo expõe claramente o ensino de que a salvação é determinada pelo decreto eterno de Deus (Efésios 1:4-5; Romanos 8:29-30).

Em conclusão, a doutrina da eleição incondicional não tem qualquer relação com o gnosticismo. Suas raízes são bíblicas e têm sido historicamente defendidas pela Igreja, particularmente no contexto da teologia reformada. Ao contrário do gnosticismo, que era exclusivista e baseado em conhecimento secreto, a eleição incondicional proclama que a salvação é uma dádiva gratuita de Deus, oferecida a todos os que ouvirem o Evangelho, sendo os eleitos aqueles que Deus soberanamente escolheu, não por mérito, mas por Sua misericórdia. Portanto, a crítica de uma influência gnóstica é infundada e reflete uma má compreensão tanto do gnosticismo quanto da doutrina reformada da eleição.

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