Cuidado com a pornografia

 

Semana passada, comparamos três Bíblias de estudo aqui no canal, e o texto usado foi Mateus 19.9, o famoso texto em que Jesus responde aos fariseus que o tentaram a respeito da lei, do divórcio e novo casamento. Foi uma boa oportunidade de crescer no conhecimento bíblico e meditar sobre o que as pessoas estão pensando a respeito desses temas tão relevantes.

Embora haja muita discussão sobre o tema, principalmente acerca do novo casamento após o divórcio, todos concordamos que Jesus estava ensinando um único motivo para o divórcio: a “porneía”. Embora o termo seja bastante abrangente, conseguimos resumi-lo a “pecado sexual” – o que abrange qualquer envolvimento sexual entre uma pessoa casada e outra que não seja seu cônjuge. Isso abriu espaço para outros dois questionamentos: 1) quanto de envolvimento sexual pode ser considerado “pecado sexual” e; 2) por que, geralmente, o termo é aplicado às mulheres e não a todos em pleno século XXI?

A segunda pergunta é bem óbvia. Jesus estava falando sobre os fariseus, por isso direciona às mulheres o pecado – pois usavam um defeito nelas para se divorciar e casar novamente. O contexto de Jesus, relatado por Mateus, é muito específico, mas, na prática, o que Ele ensina cabe a todos nós. O pecado sexual é o único fator que pode autorizar o cônjuge a se divorciar. O problema é que esta geração é muito masculinizada e tende a projetar o problema sempre no lado mais fraco da relação, por isso é difícil imaginar uma mulher pedindo divórcio após o marido a trair.

Foi fácil compreender que, embora Jesus estivesse apontando para um pecado na mulher, este mesmo pecado pode ser encontrado em homens também. É só uma questão de contexto, mas a aplicação é mais abrangente do que isso.

A primeira pergunta nos levou a uma outra pergunta. Antes de chegarmos nela, precisamos entender como eram os pecados sexuais (imoralidade sexual) na época de Jesus. Se não compreendermos as diferenças temporais, tendemos a reduzir os pecados da nossa geração e viver no erro, crendo que Deus está limitado ao tempo e espaço. Não precisamos voltar tanto. Se você tem mais de quarenta anos, sabe muito bem como era na época de Jesus; a maioria viveu coisas parecidas, embora a tecnologia já estivesse contra nós.

Os imorais praticavam qualquer tipo de sexualidade com qualquer pessoa. De forma física e até mesmo mental, pois Jesus considera esse tipo de coisa pecaminosa também (cf. Mt 5.27,28: “adultério é parte da imoralidade sexual”). Do incesto à fornicação livre – ou seja, pessoas solteiras que mantêm relacionamentos sexuais com outras pessoas, de forma livre e física. Creio não ser necessário detalhamento maior do que este.

Quando olhamos para o presente, podemos ter a impressão de não ser tão comum assim cometer estes pecados, não como antigamente – vejam, naquela época as pessoas estavam mais distantes. O marido saía para trabalhar e nem sempre voltava no mesmo dia. Dependendo de onde estava, poderia ficar semanas fora de casa, e isso é um prato cheio para uma vida de imoralidade sexual. Hoje estamos conectados, as pessoas se falam o tempo inteiro e, em alguns casos, os maridos estão literalmente enxergando suas casas o tempo inteiro – então, nós temos a impressão de que os pecados daquela época não são vistos hoje em dia. Quanto engano em nosso coração a fim de apoiar o nosso próprio pecado!

Por isso, a primeira pergunta é tão importante. Quanto de envolvimento sexual é necessário para ser considerado um pecado? Oras, Jesus deixou isso muito claro quando disse que o simples pensamento já constitui pecado; portanto, não é preciso muita coisa. Muitos de vocês já caíram em algum pecado sexual hoje mesmo, antes de ler este documento ou me ouvir falando sobre o tema.

Foi então que eu tive uma ideia libertadora, pois ela abriu não apenas a minha mente, mas serviu de luz para o que estive pensando por muito tempo. Somos muito rápidos para definir o pecado na mulher que aprova um divórcio e, em alguns casos, o segundo casamento, mas e nós? Quanto de envolvimento sexual é necessário para dizer à nossa esposa que cometemos adultério e ela pode pedir o divórcio, se quiser?

E mais, se o ato de pensar já constitui pecado, o que dizer da pornografia? Poderia uma esposa pedir divórcio por estar casada com um homem viciado em filmes pornôs? Esse tipo de envolvimento sexual é suficiente para ser considerado um ato de imoralidade sexual e, por fim, o divórcio?

Publiquei uma enquete no canal e em outras redes sociais, e muitos de vocês votaram que não. Que esse nível de envolvimento não é suficiente para permitir que a esposa peça divórcio, o que eu considerei muito injusto, uma vez que o simples ato de sorrir para outros homens já levanta em nós tamanha desconfiança e desejo de vingança. Certamente Jesus discordaria da maioria e diria que a pornografia é um pecado do mesmo nível da prostituição e, sim, a esposa pode pedir o divórcio caso o marido esteja praticando este ato de imoralidade.

Foi então que lembrei que Paulo usou um termo parecido quando escreveu aos irmãos em Corinto. Porém, Paulo tratou de algo muito mais importante do que o nosso casamento. Muito mais relevante sobre a forma como nós buscamos prazer. Paulo tratou da nossa vida eterna! Aquele que pode ser considerado nosso desejo maior: Estar com Cristo para sempre e desfrutar de uma verdadeira vida com prazer, coisas que esta vida não vai conseguir proporcionar, dentro ou fora do casamento. E quando Paulo usa o termo “pornoi” (Gr. 4205), está dizendo que qualquer pessoa que vive buscando estes pecados, seja no nível que for. Qualquer pessoa que ainda sente prazer na imoralidade sexual (ele ainda inclui no texto o adultério para que a mensagem seja ainda mais completa). Qualquer pessoa que vive na imoralidade sexual, em qualquer nível ou qualquer tipo. Esta pessoa não pode entrar no Reino de Deus.

Ele inicia a afirmativa “não vos enganeis” e termina concluindo que estas pessoas não “herdarão o reino de Deus” (1Co 6.9,10). O problema é muito mais profundo do que pensamos. Envolve muito mais do que estamos prontos para lidar, mas precisamos tocar nesta ferida o mais rápido possível! Aquelas pessoas que se alimentam da pornografia não herdarão o Reino de Deus!

Nós sabemos muito bem que a salvação é pela graça, mediante a fé. Somos reformados e falamos isso o tempo inteiro! Mas não podemos negar que Paulo está dizendo claramente que aquelas pessoas que vivem em imoralidade sexual não serão salvas! A imoralidade sexual, em qualquer nível, é um sintoma de uma vida condenada. É um prazer que faz parte daquelas pessoas que vão viver eternamente distantes de Deus, no inferno! Não há como negar, a Bíblia é muito simples e clara quando nos ensina isso e, se você continuar neste caminho, não há linha doutrinária que vá te livrar da justiça e do juízo de Deus.

Uma maneira mais simples de entender essa verdade tão perturbadora é esta: no reino de Deus, as pessoas não sentem prazer nas coisas que vão para o inferno. Elas não estão mais buscando este tipo de prazer, pois experimentaram algo mais profundo, mais verdadeiro e eterno. O amor de Deus é maior do que todos os prazeres da terra; ele é capaz de remover em nós qualquer traço do inferno. Eu sei muito bem que foi difícil responder àquela enquete porque muitos de vocês, embora se considerem cristãos, se divertem com todo tipo de imoralidade sexual. Eu também sei quão difícil é sair desses pecados e que alguns são até denominados como “vício”, mas você não pode mudar o fato de que alguém viciado em imoralidade sexual não vai entrar no Reino de Deus. Então, na tentativa de ajudar alguns de vocês (porque sei que a maioria não vai me dar ouvidos), quero deixar dois conselhos rápidos e úteis:

1 – Não chame de vício aquilo que é pecado. Dar nome aos nossos pecados faz com que os tratemos como algo comum, natural. É isso que nos prende em nossos pecados. Somos viciados em jogo e, só por isso, porque somos viciados, precisamos jogar mais uma vez. Somos viciados em bebidas e, só por isso, precisamos sair mais uma vez para beber na rua. Veja, alguns vícios são, na realidade, costumes, péssimos costumes, e poderiam ser evitados se passarmos a chamar pelo nome correto. Imoralidade sexual não é um vício; é um pecado. Formado de vários outros pecados que nos prendem ao prazer e nos lançam no inferno.

Você não está viciado; apenas está amando um tipo de pecado. Você vai continuar amando este pecado até que a morte chegue? Vai tratar esse vício como tão importante e relevante a ponto de entregar-lhe a sua alma? Se não é o seu caso, se você não considera seu pecado mais importante do que a sua alma, passe para o segundo conselho.

2 – Trate o pecado como um inimigo. John Piper disse certa vez que devemos fazer guerra contra o pecado. Não o tratamos como uma doença ou vício, mas como um inimigo. A pornografia (e qualquer tipo de imoralidade sexual) é um inimigo que quer levar você ao inferno. Você vai ceder ou lutar? Como você o enxerga agora? Olhe aquelas meninas sem roupas. Elas parecem tão sensuais e atraentes; algumas parecem até mesmo inocentes, mas o que elas querem mesmo é levar a sua alma para o inferno. Sabe aquela mensagem provocante que você recebeu? Aquele olhar? São ferramentas do inferno para prender e condenar você. Como você deve lidar com elas? Você deve odiar o que elas representam e fazem. Um dia você pode estar no inferno e lembrar que foi parar lá por amar demais o pecado. Talvez você se lembre de ter lido sobre isso em algum lugar, mas vai ser tarde demais; então, trate os pecados sexuais como inimigos da sua alma agora mesmo!

Quando se sentir seduzido ou atraído, lembre-se disso. Eles querem a sua alma em troca de alguns minutos de prazer. Jesus deu a vida dele para que você pudesse herdar um reino eterno! Você estará trocando a eternidade com Ele por uma emoção, alguns minutos de prazer. Então, lute contra o pecado. Lute contra o seu próprio desejo de prazer; lute contra aquelas cenas que tentam arrastar você; isso não é sobre cair mais uma vez ou ceder de novo. Isso é sobre o estado eterno da sua alma!

O caminho da libertação pode ser longo e doloroso, mas ninguém vence sem lutar. Se você ainda está sendo seduzido pelo pecado da pornografia, saiba que Jesus pode te ajudar a vencer. Ele te deu todas as armas; você tem como fugir, como pedir ajuda e vencer. Então, mesmo que você esteja preso no lamaçal deste pecado, saiba que é preciso lutar para vencer! Ore sempre sobre isso, avalie suas próprias escolhas, identifique seu verdadeiro inimigo e não pare de lutar!

Devair Eduardo - EATRE 25

Breve Dicionário:

Devassos (πόρνοι – pornoi, Strong #4205): Derivado de porneía, indica aqueles que vivem em imoralidade sexual generalizada, incluindo fornicação e promiscuidade. (1Co 6.10)

Prostituição (πορνεία – porneía, Strong #4202): Termo abrangente para toda forma de imoralidade sexual. No contexto judaico do século I, referia-se, entre outras coisas, a adultério, incesto, fornicação e até casamentos inválidos (como entre parentes próximos). (Mt 19.9)

Devassos em 1Co 6.9: Aqueles que vivem buscando pecados sexuais – Paulo adiciona ainda o pecado sexual na vida de casais, ou seja, solteiros e casados estão incluídos no texto de Paulo.
Prostituição em Mt 19.9: Aquela pessoa que, estando casada(o), procura relações sexuais com outras pessoas. Isso quer dizer: qualquer tipo de pecado sexual entre a pessoa casada e outra que não seja seu cônjuge.


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