O purgatório não existe!


 
A doutrina católica romana do purgatório tem sido ensinada desde o século XV, quando foi estabelecida pelo Concílio de Florença, sob o seguinte texto:

Aqueles que, arrependidos de seus pecados e em estado de graça, falecem antes de terem cumprido plenamente a penitência por suas faltas, passam por um processo de purificação após a morte. Esse processo, conhecido como penas purgatórias, ajuda a purificar suas almas. Os vivos podem contribuir para o alívio dessas penas oferecendo orações, missas, esmolas e outras ações piedosas, de acordo com os ensinamentos e tradições da Igreja. (paráfrase minha, mais informações: Concílio de Florença, Decreto para os Gregos, Laetentur Caeli, 6 de julho de 1439)

De acordo com o documento base da doutrina, os crentes podem morrer sem ter “cumprido plenamente a penitência por suas falhas”, ou seja, sem ter pago por todos os pecados que cometeram em vida e, por isso, passam por uma espécie de purificação no que é chamado de estado intermediário, antes de merecer o estado eterno. O ensino é extremamente controverso, tanto para a teologia do Antigo quanto do Novo Testamento, e mesmo assim foi aceito como doutrina base do movimento católico em pelo menos dois concílios importantes: o Concílio de Florença (1439) e o Concílio de Trento (1545-1563).
Desde então, algumas coisas mudaram radicalmente na religiosidade cristã, afetando principalmente aqueles crentes fiéis que, devido às exigências católicas, não puderam considerar que esta doutrina não faz parte de sua religiosidade e não puderam pesquisar a fim de combater tal heresia. Quero citar alguns problemas gerados por essa doutrina antes de pensarmos sobre as bases principais usadas pela Igreja Católica.

Culpa e medo espiritual: Uma doutrina dura como essa fez com que os crentes, que antes viviam para a glória de Deus, confiando na obra de Cristo e sabendo que, por essa obra, estariam com Ele após a morte, passassem a duvidar tanto da capacidade da obra de Cristo quanto da certeza de que estavam de fato salvos. Se antes era ensinado que a garantia da nossa salvação eterna estava em Jesus Cristo, como o próprio Salvador ensinou na parábola do Bom Pastor (João 10), agora as pessoas tinham dúvidas se eram realmente salvas por Jesus ou por seus próprios esforços. E, se a segunda teoria prevalecesse, como saberiam se estavam no caminho certo, uma vez que o Apóstolo João nos diz que pecamos todos os dias? (cf. 1 João 1:8-10). Se os crentes cresceram crendo no ensino de Paulo sobre a justificação apenas pela fé em Jesus e no resultado dessa justificação como a paz com Deus (Romanos 5:1-4), agora estavam duvidando se a fé que sentiam em Jesus era verdadeira e se Deus estava realmente em paz com eles, já que, após a morte, cobraria pelos seus pecados, que anteriormente foram pagos na cruz. Assim, a doutrina do purgatório colocou em dúvida não apenas as Escrituras, mas também a ação graciosa de Deus para salvar o seu povo. E isso nos leva ao segundo problema, onde a própria Igreja Católica se coloca como a única capaz de resolver o problema das almas que, infelizmente, não pagaram por seus pecados em vida.

Exploração econômica: Se os crentes tinham dúvida sobre sua própria fé, o que dizer sobre a fé daqueles que amavam e faleceram? Como resolver o problema da minha pobre avó, que morreu sem ter pago por seus pecados? – uma vez que Jesus não foi capaz de pagar completamente, como resolver o problema por ela e assim dar um descanso eterno para sua alma? É aqui que a doutrina toma um tamanho monstruoso e inflexível. A Igreja Católica passou, então, a vender a liberdade das almas presas no purgatório. Uma vida de santidade trocada por alguns trocados. A venda de indulgências foi um dos maiores problemas da Igreja Católica na história. Alguns padres tiraram tudo do fiel em troca da liberdade de uma alma presa entre o céu e o inferno. Alguns teólogos chegam a afirmar que a venda de indulgências não retirava a alma do purgatório, apenas aliviava o seu sofrimento. Você consegue perceber o negócio criado em torno dessa doutrina? A Igreja passou a administrar as almas presas no purgatório, cobrando dos fiéis em dinheiro para que elas pudessem ter um pouco mais de “paz”! O peso de uma heresia sempre aumenta se não nos livrarmos dela.

Dependência excessiva da Igreja: Se a obra de Cristo não os livrava de seus pecados, se não havia paz com Deus, mesmo crendo em Jesus Cristo, e não tinham como recorrer às Sagradas Escrituras, aquelas pessoas ficaram totalmente dependentes da Igreja Católica, dos padres e dos papas. Em última análise, a única capaz de salvar uma alma era mesmo a Igreja Católica, que, a partir dessa doutrina, assumia a administração das almas dos vivos e dos mortos, como se assumisse o próprio trono de Deus e tomasse conta daquilo que Ele determinou antes da criação do mundo (Efésios 1:4,5). O crente vivia, então, para alimentar e glorificar a Igreja Católica, uma vez que a vida e a morte dependiam do que se fazia com e para ela. Talvez por isso os reformados considerassem o papa como a manifestação da besta descrita em Apocalipse 13. A Igreja Católica literalmente se tornou uma deusa, uma terrível e inflexível deusa da morte, onde você nascia em pecado e vivia para pagar por eles, além de se preocupar com a alma dos seus entes queridos e literalmente pagar para que tivessem um pouco de paz no estado intermediário. É claro que, hoje em dia, isso não é mais tão absurdo, mas, ainda assim, a doutrina deve tirar o sono de fiéis em todas as partes do mundo. Poderiam crer em Jesus e em sua obra, mas vivem com medo da vida e da morte ao mesmo tempo.

A longo prazo, a doutrina do purgatório trouxe os famosos abusos e corrupções eclesiásticos. Onde o poder e o dinheiro entram, a corrupção cresce e, com o tempo, toma conta da vida das pessoas que, em última análise, só querem tirar o dinheiro dos mais pobres e dá-lo aos mais ricos. A Igreja Católica matou, condenou e pressionou pessoas para, com isso, enriquecer ainda mais as bases da sua própria religião. Enquanto os mais pobres e ignorantes acreditavam que isso estava aliviando almas no purgatório, os padres estavam construindo o império que existe hoje em dia. Não seria exagero chamar isso de império da morte. A "deusa" ICAR não teve pena de ninguém.

Existem duas bases principais para o estabelecimento da doutrina do Purgatório, a Bíblia e a tradição católica. Quero analisá-las em busca de uma resposta bíblica e lógica para a doutrina, vejamos:

A BÍBLIA

Uma obra purificada pelo fogo (1 Coríntios 3:12,13): Um dos textos mais importantes para essa doutrina está na primeira carta de Paulo aos crentes em Corinto. Segundo a teologia católica, esse texto ensina que as nossas obras precisam ser provadas com o fogo a fim de ser comprovada a nossa fé, mas isso acontece após a morte. É estranho pensar nesse tipo de leitura, uma vez que o texto não trata da morte ou de um estado intermediário. Nem mesmo os versos anteriores tratam desse assunto. O capítulo todo, na realidade, trata do ministério cristão na terra. Paulo está tentando diminuir a ideia de que a sua obra foi melhor do que a de Apolo (e vice-versa). Seguindo o seu ensino, o que mostrará se a nossa obra para o Reino de Deus é ou não válida são as tribulações (fogo no texto).
Se permanecermos após passarmos por essa “purificação”, ou seja, se nossa obra e ministério não desmoronarem após ela, estará aí demonstrado o valor do que fazemos. Não há, portanto, nenhuma ligação entre o que Paulo ensina e a vida após a morte. Não há nenhuma menção a um estado intermediário também, o que torna ainda mais absurdo apoiar essa ideia com este texto.

A doutrina ensinada em 2 Macabeus: A Igreja Católica usa o texto de 2 Macabeus 12:43-46 como base para a doutrina do purgatório. O texto realmente trata de uma espécie de sacrifício pelos mortos, chegando a descrever como dez mil dracmas o valor arrecadado para tal culto (algo em torno de 32 mil dólares, convertido no dia em que escrevi esse texto seria equivalente a 181 mil reais). É fácil perceber como a doutrina das indulgências foi criada e de onde retiraram sua inspiração. A conclusão no verso 46 dá toda a regra da doutrina: “Eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas” (https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/ii-macabeus/12/).

Porém, se ignorarmos os problemas neste livro, aceitaríamos facilmente tal doutrina. Mas não é isso que vamos fazer. O segundo livro de Macabeus só foi escrito no século II a.C. e em grego. Diferente do Antigo Testamento, esse livro não existe em seu idioma original hebraico, mas foi escrito apenas em grego, ou seja, esse livro não possui autoridade alguma no cânon judaico e cristão, estando presente apenas em cânones (bíblias) recentes.

Confiar em um escrito tardio assim é sempre arriscado, pois no século II d.C. um grupo religioso misto, chamado Gnóstico, escreveu muitos livros usando termos e nomes cristãos, incluindo, porém, doutrinas místicas enquanto contavam histórias não registradas na Bíblia. Não foi diferente com o texto de 2 Macabeus, que apresenta nesse caso um tipo de sacrifício expiatório para os mortos.

Veja bem, embora esse livro tenha sido incluído no Antigo Testamento por algumas igrejas modernas, esta doutrina não é mencionada em nenhum dos livros e cartas de toda a Bíblia. Como poderíamos confiar em um único livro, sabendo que ele foi praticamente inventado no século II a.C. e trazia uma doutrina estranha como essa?

O mesmo aconteceu com outras doutrinas católicas, como, por exemplo, a Assunção de Maria, que não é ensinada no Novo Testamento, mas aparece em um texto chamado “Transitus Mariae” (Trânsito de Maria), escrito entre os séculos IV e V. Um texto tão tardio conseguiu influenciar a doutrina da Igreja e fazer de Maria uma rainha dos céus e co-participante da glória de Deus, algo que, em si mesmo, é declaradamente uma quebra do primeiro mandamento bíblico.

A TRADIÇÃO CATÓLICA

Além dos textos presentes na Bíblia, o catolicismo romano considera sua própria tradição como suficiente para aceitar uma doutrina, mesmo que ela seja rejeitada pela Bíblia. Em última análise, o que aprova qualquer doutrina dentro do movimento é a tradição, ou seja, a opinião de padres e papas ao longo da história. A Bíblia não tem o mesmo peso que a tradição nessa religião, e por isso há tantas incoerências no movimento. Há menção de textos de Agostinho (séculos IV e V) e Gregório de Nissa (século IV), porém, precisamos ter em mente que esses homens não escreveram com base em uma cosmovisão puramente bíblica. Agostinho, por exemplo, havia passado por uma religião mística antes de se tornar cristão, e talvez isso tenha influenciado sua doutrina e seus escritos.

Os textos dos pais da Igreja não são, portanto, canônicos ou inspirados. Assim como acontece com reformadores como João Calvino, esses escritos precisam ser avaliados à luz das Escrituras, que foram inspiradas por Deus e são aptas para julgar qualquer ensino.

Se Agostinho, João Calvino e Armínio escreverem algo que é claramente negado pelas Escrituras, não deveríamos também negar o que eles escrevem? A mente humana, sendo limitada, não pode julgar o que o Espírito Santo inspirou nos escritores antigos; são eles que devem julgar nosso texto e doutrina.
 
Logo, não é só a minha vida e moralidade que devem ser moldadas e julgadas pelas Escrituras, mas também a minha doutrina e os meus escritos. O mesmo deve ser aplicado a qualquer pessoa em qualquer época na história humana; caso contrário, seremos obrigados a aceitar qualquer coisa que se pareça sagrada, ainda que traga em si ensinos rejeitados por Deus.

O mesmo deve ser aplicado aos concílios que definiram essa doutrina como parte das doutrinas cristãs ensinadas na Igreja Católica.

João Calvino escreveu sobre essa heresia

É essencial refutar a doutrina do purgatório, por causa das sérias consequências e da natureza ofensiva que ela carrega. Não devemos ser tolerantes com o purgatório, pois essa doutrina já foi derrubada e destruída em sua essência. Há quem sugira que deveríamos ignorar essa questão, argumentando que discutir sobre o purgatório só traz debates sem benefício. No entanto, eu discordo. Embora possa parecer uma questão insignificante, ela tem implicações graves.

O purgatório é construído sobre várias blasfêmias, e novas ofensas continuam sendo acrescentadas a essa doutrina. Por isso, não podemos simplesmente ignorá-la. Mesmo que por um tempo alguém pudesse tentar disfarçar o fato de que o purgatório foi inventado de forma imaginativa e ousada, sem base na Palavra de Deus, e que se apoiou em revelações inventadas, devemos lembrar que o Senhor não permite que as pessoas se aventurem em seus julgamentos secretos. Ele proíbe buscar a verdade fora de sua Palavra, especialmente consultando os mortos, e não permite que sua Palavra seja distorcida dessa maneira.

Mesmo que tolerássemos esses erros por algum tempo, como se não fossem tão importantes, a situação se torna perigosa quando a doutrina do purgatório desvia a expiação dos pecados do sangue de Cristo para outra coisa. Quando a satisfação pelos pecados é atribuída a algo além de Cristo, é preciso falar com força e clareza que o purgatório é uma invenção mortal de Satanás. Ele esvazia a cruz de Cristo, desonra a misericórdia de Deus, e enfraquece e destrói nossa fé.

O purgatório é basicamente a ideia de que, após a morte, as almas dos mortos pagam por seus pecados para serem purificadas. Mas, se a ideia de satisfação pelos pecados é removida, o purgatório perde seu fundamento e deve ser rejeitado completamente. Se está claro que o sangue de Cristo é a única forma de expiação e purificação dos pecados dos fiéis, então o purgatório é nada mais que uma blasfêmia horrível contra Cristo.

Deixo de mencionar as heresias que são usadas para defender o purgatório, os problemas que ele causa na religião e os muitos outros males que surgem dessa doutrina falsa.
(Fonte: Institutas da religião cristã, livro 3, c. 5.3)

O QUE A BÍBLIA FALA SOBRE TUDO ISSO?

A primeira coisa que você precisa ter em mente é que a Bíblia realmente não trata desse assunto porque não existe tal estado intermediário. Se houvesse, seria claramente ensinado, uma vez que Jesus fala explicitamente sobre isso quando conta a parábola do Rico e Lázaro (Lucas 16:19-31) ou quando ensina sobre sua missão na terra e cita claramente a ressurreição (João 6:36-40). Se essa doutrina é tão importante e verdadeira, por que Jesus não a ensinou? Por que nenhum dos apóstolos a ensinou à igreja? Porque ela não existe.

Além disso, você precisa lembrar que a salvação é uma obra exclusiva de Deus. A operação da salvação é realizada pela pregação do Evangelho e pela ação do Espírito Santo. O crente é justificado pela fé em Jesus Cristo, como nos ensinou o Apóstolo Paulo em Romanos 5. Isso significa que o que nos faz aceitáveis a Deus não são as nossas boas obras, mas a fé em Jesus. Se houvesse algo a mais, teria sido claramente ensinado no Novo Testamento, uma vez que ele fundamenta toda a doutrina cristã e a leitura perfeita da Bíblia Sagrada. Deus não deixaria as almas perdidas no purgatório por mais de 1400 anos até que a Igreja Católica Apostólica Romana a estabelecesse e começasse a salvar aquelas pobres pessoas que morreram crendo em Jesus.
Não há necessidade de tratar extensivamente uma doutrina que não é ensinada pela Bíblia e não faz parte do cristianismo; seria desperdiçar nosso tempo com algo vã. Há, sim, a necessidade de lembrar que, se fomos salvos por Jesus, Ele mesmo vai cuidar de nossa alma, em vida ou após a morte, e não há nada que possamos fazer que seja superior ao que Ele fez na cruz. Não há maior obra do que essa: dar a vida pelo Seu povo. Se um sacrifício como esse não é suficiente para nos purificar de todo pecado, não há o que fazer além de lamentar nossa própria destruição. Se Deus não aceitou como válido, como suficiente, o que Seu próprio Filho fez por nós, o que poderíamos fazer, sendo os piores pecadores deste mundo?

Se você ainda tem medo do que vai acontecer após a morte, tenha em mente que as Escrituras ensinam que “temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5:1). Se você acha que precisa fazer algo para completar a graça de Deus, lembre-se de que “pela graça” fomos salvos, “isso não vem de vós, para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8-9). E se isso ainda não é suficiente para tranquilizar sua alma, lembre-se de que foi um escritor bíblico quem escreveu estas palavras:

"Pela vontade de Deus, fomos santificados pelo sacrifício de Jesus Cristo, feito de uma vez por todas [...] Com uma única oferta, Ele aperfeiçoou para sempre aqueles que estão sendo santificados" (Hebreus 10:10,14).

Creia em Jesus, confie em sua providência e viva em paz com Deus, pois isso foi conquistado na cruz para você!

Texto: Devair S. Eduardo
Revisão: OpenAI

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